Kwanza mais forte beneficia consumidores mas prejudica indústria local - BFA

O economista-chefe do Banco Fomento Angola (BFA) disse hoje à Lusa que a valorização do kwanza no primeiro trimestre do ano melhora o poder de compra, mas dificulta a atividade da indústria local.

"As consequências são positivas para o poder de compra dos angolanos, com moderação ou descida dos preços dos bens importados, contribuindo para que a inflação desacelere, processo que começou em Fevereiro; além disso, a apreciação traz igualmente confiança aos agentes económicos", disse José Miguel Cerdeira à Lusa, salientando que "ao mesmo tempo, esta maior competitividade das importações pode tornar a vida da nascente indústria local mais complicada, no que toca a substituição de importações e a exportações".

Em entrevista à Lusa a propósito da valorização de 23% do kwanza no primeiro trimestre deste ano, o economista-chefe do BFA salientou que "a apreciação do kwanza nos últimos meses explica-se de maneira simples, olhando para o mercado: procura e oferta".

Depois de o mercado ser liberalizado, no final de 2018, "observou-se em 2020 um choque muito grande na oferta de divisas a Angola, com receitas petrolíferas muito mais baixas do que o normal, devido ao preço do petróleo nos mercados internacionais", mas agora o cenário é o inverso.

"Por um lado, a oferta de divisas é maior -- devido ao preço do petróleo mais elevado, que traz mais receitas em dólares para as petrolíferas e para o Tesouro -, e por outro, a economia está ainda a recuperar, pelo que a procura por divisas não é tão alta como era em 2018, 2019, embora já esteja a subir face aos níveis baixíssimos de 2020", comentou.

Sobre a política monetária que o Banco Nacional de Angola vai seguir, José Miguel Cerdeira diz que "é possível que o BNA possa entender parte deste movimento de apreciação como temporário -- devido ao impacto do conflito entre a Rússia e Ucrânia no preço do petróleo -, pelo que poderá intervir, comprando divisas no mercado, e poupando em reservas internacionais para quando o preço do petróleo desça novamente abaixo dos 100 dólares".

A moeda nacional de Angola, o kwanza, ganhou 23% à moeda norte-americana este ano, com um dólar a valer 554,9 kwanzas a 1 de janeiro e a melhorar para 449,8 no final de março.

De acordo com a análise feita pela Lusa aos câmbios oficiais do kwanza, a moeda nacional de Angola tem-se valorizado consistentemente desde o início do ano, impulsionada pela subida dos preços do petróleo e motivando diversas implicações positivas nos indicadores económicos de Angola.

A economia de Angola saiu da recessão de cinco anos em 2021, crescendo 0,7%, segundo o Instituto Nacional de Estatística de Angola, e deverá crescer 3% este ano, de acordo com a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI).