“A desvalorização do kwanza (moeda angolana) deve-se a choques de oferta no mercado cambial. Houve uma redução importante da oferta de divisas com a ausência do Tesouro Nacional no primeiro semestre deste ano e continua ausente”, afirmou o economista angolano à Lusa.
Para o especialista, duas razões sustentam esta redução na oferta de divisas, nomeadamente o facto de o Tesouro angolano “estar a alocar as receitas em moeda estrangeira para o pagamento da dívida sem a substituir por novas divisas”.
“Isto retira-lhes liquidez em moeda estrangeira para vender no mercado cambial, por um lado”, salienta.
Vunge aponta também o “fraco desempenho das contas externas” como uma outra razão da queda de divisas.
“Hoje está provado que há uma correlação entre o nível do câmbio e o nível de preços na economia nacional”, realçou o economista, recordando que Angola é um país dependente de importação “até em bens da cesta básica”.
Com o “câmbio a desvalorizar, como está”, notou, a meta da inflação definida pelas autoridades “não pode ser alcançada”.
O Banco Fomento Angola (BFA) considerou hoje que o kwanza vai apreciar a médio prazo, apesar da queda de quase 10% face ao dólar na semana passada, acumulando perdas de 23,75% desde o início do ano.
"A passada semana foi marcada pela contínua depreciação do kwanza face ao dólar e face ao euro", escrevem os analistas do BFA no comentário semanal à evolução do mercado, apontando para as quedas de 9,87% face ao dólar e de 9,95% face ao euro.
O kwanza terminou a semana passada a valer 660,6 kwanzas por dólar e 711,4 kwanzas por euro, e o BFA disse que "o ritmo de queda do kwanza parece não estar a diminuir".
O Governo angolano decidiu, desde o dia 02 de junho, retirar parcialmente os subsídios à gasolina, cujo litro custa agora 300 kwanzas (0,48 euros) contra os anteriores 160 kwanzas (0,25 euros), com relatos já de subida do preço dos bens alimentares e de outros serviços.
Questionado sobre se o Governo deveria recuar na medida dos combustíveis, Alberto Vunge disse que “não há ainda como isolar o efeito da retirada da subvenção dos combustíveis na evolução da inflação”.
E sendo que foi uma medida tomada “já depois do desgoverno dos preços”, não considera que “seja uma causa da inflação”.
Em relação à possível necessidade de intervenção do Banco Nacional de Angola (BNA), o economista considerou que o banco central angolano “tem tentado, principalmente, expurgar os kwanzas” com a sua intervenção no mercado monetário.
Considerou que a referida medida do BNA “não é a mais ideal”, acreditando ser a medida “possível” face à “incapacidade” para se aumentar a oferta de divisas.
“Mas é uma medida que limita as importações e aprofunda a escassez de bens de consumo, alimentando mais ainda a escalada de preços”, observou.
“Há quem defenda que, no curto prazo, o Tesouro devia ir aos mercados internacionais e contrair ou fazer dívida para captar divisas e alimentar o mercado cambial, estabilizar o câmbio e inibir a chamada inflação importada”, salientou.
E, por outro, assinalou, permitir o ajustamento da oferta de bens ao nível da procura atual.
Mas, argumentou, “é uma medida que soluciona o curto prazo, mas pode perigar a sustentabilidade das finanças públicas a médio e longo prazos”, rematou Alberto Vunge.