Em declarações à Lusa, Serra Bango, responsável da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), enalteceu a “grande conquista” alcançada com o calar das armas, lamentando, no entanto, que Angola esteja ainda longe da paz social: “a situação que o país está a viver não é aconselhável, não é boa, pode descambar para convulsões internas”.
O analista apontou o elevado índice de desemprego como um dos fatores críticos, num país em que o maior empregador é o Estado, o que “só por si, não cria riqueza nem desenvolvimento”.
Lamentou que o setor da educação, “que deveria produzir conhecimento”, esteja negligenciado, dando como exemplo a greve dos professores que dura há 90 dias.
“E o Governo não diz nada”, criticou, chamando a atenção para a necessidade de desenvolver setores como a agricultura, a indústria e as pescas, entre “uma imensidão de áreas” que estão por explorar.
Criticou também o que considerou ser uma encenação por parte da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) face aos acontecimentos do 27 de maio de 1977, em que milhares de pessoas morreram, na sequência de uma alegada tentativa de golpe de Estado que foi violentamente reprimida pelo regime de Agostinho Neto.
Para Serra Bango, as vítimas e suas famílias estão a ser envolvidas numa alegada reconciliação que não passa de um “lavar da imagem de um regime que é violento” e pouco dialogante.
“Basta ver as televisões e os debates para ver como são tratados os que não se identificam com o partido do Governo. Não há espaço para ouvir pensamentos contrários”, sustentou.
Por isso, o dirigente da AJPD apelou a um diálogo franco, sincero, inclusivo, considerando que “o que falhou foi, precisamente, pensar que só as ideias deste único partido (MPLA) são as que prevalecem e são as melhores”.
“Faltou saber ouvir os pensamentos contrários. É da dialética que surge o desenvolvimento, senão não sairemos daqui”, comentou.
O presidente da AJPD sublinhou que numa democracia o ato de governar não deve ser exercido por um único ente e acrescentou que o povo deve “escolher livremente e com transparência” quem quer à frente dos destinos do país.
Há 20 anos, em 04 de abril de 2002, o governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), as duas formações políticas beligerantes que estiveram envolvidas, desde a independência do país, numa longa guerra civil que se arrastou por três décadas, assinavam na cidade de Luena (Moxico) os acordos que, finalmente, permi