Numa carta a que a Lusa teve acesso e dirigida “a quem possa interessar”, os médicos Jorge e Teresa Rius, do Centro Médico Teknon, em Barcelona, afirmam que apesar dos seus problemas de saúde, agravados pela covid-19, que obrigou a internamento hospitalar prolongado, a situação de José Eduardo dos Santo está a evoluir “lenta e progressivamente, de forma satisfatória”.
O documento surge um dia depois de a presidência angolana ter divulgado uma nota do ex-chefe de Estado, comunicando que apenas o seu médico pessoal está habilitado para falar sobre a sua saúde, após críticas de uma das suas filhas, Welwitschia “Tchizé” dos Santos, sobre o tratamento que tem sido dado ao pai.
O documento refere que o centro médico de Barcelona, cidade onde Jose Eduardo dos Santos vive desde 2019, tem sido responsável desde 2006 pelos exames anuais de saúde do antigo chefe de Estado, que presidiu aos destinos de Angola durante 38 anos e foi substituído, em 2017, por Joao Lourenço.
Indicam ainda que ao longo dos últimos 16 anos tiveram oportunidade para conhecerem o seu médico pessoal, João Afonso, que acompanhou os ‘check-up’ e que tem solicitado as consultas de acordo com as necessidades médicas e com a aprovação do ex-Presidente.
“Ao longo da nossa relação, temos comprovado o valor, competência, preparação e dedicação do dr. Afonso para Sua Excelência, irrepreensíveis”, escrevem na carta, acrescentando que é “uma boa decisão tê-lo como médico pessoal”.
Questionada sobre a carta dos médicos espanhóis, Tchizé do Santos disse à Lusa que quer que estes “ajudem a recuperar” o seu pai, considerando que “são os melhores”, acrescentando que não falou com eles sobre o documento.
Disse ainda que o seu objetivo ao expor a situação foi garantir que as pessoas que rodeiam o seu pai “façam o seu trabalho” e garantiu que os familiares “estão de olho”.
“Eu só ajo em minha defesa e dos meus. Então tratem bem os meus, não boicotem a saúde dos meus, o objetivo é que ponham o meu pai bom, pois eles é que o puserem mal, então remendem o que fizeram”, sublinhou.
“Como é que é possível uma pessoa passar cinco meses em Angola e deteriorar-se o seu estado de saúde sem dar a conhecer à família”, questionou, a propósito da passagem recente de José Eduardo dos Santos por Angola.
Numa nota divulgada na terça-feira pela Presidência angolana e assinada pelo ex-presidente, José Eduardo dos Santos alega que João Afonso é o seu médico pessoal, que o acompanha há 16 anos, em quem tem “a máxima confiança”, e é “a única entidade autorizada a falar” sobre o seu estado de saúde.
Esta posição surge depois de Tchizé dos Santos ter denunciado “abusos” e “condicionamento da liberdade” em relação ao seu pai, admitindo que a família lida com “um caso de polícia”, que pode motivar uma queixa às autoridades espanholas.
“Nós, os filhos de José Eduardo dos Santos (…) os que, de facto, estamos a querer zelar pela segurança do nosso pai, pela integridade física e jurídica do nosso pai, estamos a sentir-nos impotentes e só vamos ter uma alternativa que é chamar as autoridades espanholas a intervir porque isto é um caso de polícia. A outra alternativa é levar ao conhecimento de todos os angolanos o que está a acontecer”, disse, em declarações enviadas à Lusa.
Tchizé dos Santos tinha questionado anteriormente a intervenção do médico angolano, já que este teria dito aos médicos espanhóis que estavam a dar assistência ao ex-presidente “para anularem as consultas e para não aparecerem”.
Na nota divulgada pela Presidência, José Eduardo dos Santos refere que João Afonso “continuará a ser o médico coordenador da equipa multidisciplinar” que garante a sua “assistência médica em Barcelona”.