“As eleições de 2022 vão provavelmente ser as mais disputadas desde que o país se tornou independente, devido aos danos reputacionais ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), bem como à periclitante campanha anticorrupção e ao progresso lento das reformas lançadas por João Lourenço”, escrevem os analistas.
Numa análise sobre as eleições de agosto em Angola, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, a diretora do departamento africano da Eurásia, Shridaran Pillay, e a investigadora Jeanne Ramier escrevem que, “se for eleito”, concluem, “João Lourenço terá provavelmente de aumentar o foco na melhoria das condições sociais, especialmente se o resultado for dececionante na eleição, ao mesmo tempo que terá de manter os compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional, como remover os subsídios”.
Na análise às eleições, as investigadores escrevem que “o apelo do partido no poder, largamente alicerçado no papel histórico da luta de libertação e da guerra civil, está a desvanecer-se, já que os eleitores mais jovens, que não viveram a guerra e são indiferentes a esta narrativa, estão mais preocupados com a educação, o desemprego, a falta de oportunidades económicas e os cuidados de saúde”.
As eleições, agendadas para 24 de agosto, são as primeiras em que a geração nascida depois da guerra vai poder votar, e será também a primeira em que a diáspora poderá exercer o direito de voto.
“Não há uma indicação clara sobre quem a maioria da diáspora apoia, o que torna estes eleitores importantes de seguir”, escrevem as analistas.
A Eurasia antevê uma vitória do MPLA, mas por uma margem mais estreita, “mantendo a tendência que se acelerou nas últimas eleições”, e considera que “não é certo que o MPLA consiga manter a maioria absoluta e o direito de, sozinho, mudar a Constituição”, o que se torna menos importante dado que não é possível alterar a lei fundamental nos próximos nove anos.
As eleições municipais do próximo ano, consideram, “serão o principal motivo de combate político e um grande teste para o MPLA”, já que a oposição pode ganhar algumas autarquias importantes, “obrigando o MPLA a, de alguma maneira, ter de partilhar o poder” com a UNITA.
Para a Eurasia, um segundo mandato de João Lourenço será marcado pela continuidade das políticas: “O Presidente está empenhado na reforma da economia e vai continuar a sua agenda sobre a estabilidade macroeconómica, consolidação orçamental e privatizações”, apontam, notando que uma das prioridades será “diversificação da economia e o desenvolvimento da agricultura e da mineração, ao mesmo tempo que combate o declínio da produção de petróleo”.
O próximo governo, continua a Eurasia, terá múltiplos desafios, entre os quais se contam “o alto desemprego, inflação galopante, elevado custo de vida, aumento das greves e protestos, pedidos de democratização e a crise humanitária no sul do país”.
As eleições legislativas e presidenciais estão marcadas para 24 de agosto.