O professor universitário sublinhou, em declarações à agência Lusa, que este foi o elemento central dos discursos do MPLA, no poder, e da UNITA, na oposição, frisando que o discurso do presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), João Lourenço, “teve uma série de notas importantíssimas”, destacando a mensagem dirigida à seleção de futebol angolana que participou no Campeonato Africano das Nações, manifestando apoio incondicional do Estado.
Segundo o especilista em relações internacionais, em linhas gerais o líder do MPLA discorreu o seu discurso sobre “a trajetória frenética e dificílima” do país desde a sua independência, realçando que aquela formação política em 50 anos conseguiu garantir alguma sustentabilidade ao povo angolano.
“Mas também falou dos principais desafios que são o desenvolvimento económico e social e que podem trazer objetivamente o bem-estar ao povo angolano”, referiu.
Para Almeida Henriques, “o momento alto indiscutível” no seu discurso é a questão da organização de uma nova divisão político administrativa, com João Lourenço a afirmar que nenhum outro partido tomou como o MPLA a iniciativa das políticas de descentralização e desconcentração administrativa e descentralização, e particularmente das autarquias.
“O que implica dizer que é ele que está mais preparado para organizar este processo, por esta razão se tomou a iniciativa da divisão política administrativa, para que se consiga ter a comunicação a todos os níveis com as comunidades de uma forma mais aproximada”, adiantou.
Ao contrário do MPLA, que defende um modelo político autárquico de âmbito nacional, ainda que de uma forma faseada, o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, defendeu no seu discurso a autonomia administrativa para a província de Cabinda.
De acordo com docente, este é um elemento de contradição da agenda política, sendo que o MPLA “voltou a provar que, independentemente de alguma demora na prossecução do grande objetivo das autarquias locais, vontade não falta e os caminhos vão sendo traçados”.
“E um dos passos significativos é a proposta da divisão político administrativa de duas províncias que o somatório dá quatro, é assim que se defende o MPLA. Agora, a UNITA tem uma visão contrária, que falta vontade política do MPLA para implementar as autarquias”, disse.
O analista defendeu que se devia avançar para a concretização das autarquias, sendo que, "de uma forma estratégica", o partido governante esvaziaria os discursos políticos de quem se opõe ao poder.
"Se calhar seria um dos grandes trunfos, porque, partindo para as autarquias, a UNITA particularmente fica meio vazia naquilo que são os seus grandes desafios, porque nesta altura a maior nota de concorrência são as autarquias", observou.
O analista olhou para a escolha de Cabinda pela UNITA como uma forma de agradecimento à sua praça eleitoral, onde se pretende manter vitoriosa, bem como em Luanda, na capital.
“Há uma frenética manifestação política entre os dois partidos em busca, na consolidação das praças eleitorais existentes, o que não é fácil manter o mesmo perfil, a mesma dimensão do ponto de vista da aceitação população se não mesmo da militância, porque os tempos vão variando e as circunstâncias também vão alterando”, frisou.
Além das autarquias, Almeida Henriques considerou que nesta altura o foco é igualmente a reavaliação das políticas que devem ser concebidas para que cada partido consiga provar que deve continuar no poder, no caso do MPLA, e que possa vir a merecer o poder, no caso da oposição.