Adalberto Costa Júnior considerou que não faz sentido Angola alcançar os 50 de independência, a celebrar em 11 de novembro de 2025, e todos aplaudirem em uníssono o “campeão da paz” - numa alusão ao Presidente angolano, João Lourenço, distinguido como “Campeão da Paz e Reconciliação em África” em maio de 2022 – quando existem “profundos problemas por se resolver”.
“Nós não queremos a hipocrisia e estamos aqui exatamente para contribuirmos e corrigirmos essa visão desviada, exclusiva, partidária, de um país que a caminho dos seus 50 anos não concluiu a reconciliação nacional”, afirmou hoje em conferência de imprensa, em Luanda.
O dirigente considerou também que Angola não trata bem os antigos combatentes, "não trata bem até heróis, trata mal a sua memória, não tem memória histórica, trata mal a sua memória histórica”, salientando que o país “não está reconciliado consigo próprio”.
“Vamos partir para farras, despesismos, conferências, é o que temos estado a observar, num país que tem profundos problemas para resolver, e nós queremos ser contribuintes positivos para fazer melhor Angola”, respondeu à Lusa. Por outro lado, defendeu que os 50 anos de independência de Angola deveriam ser, acima de tudo, celebrados “sem mortes por fome, com inclusão, sem Estado repressivo, mas em liberdade”.
“Não faz sentido Angola comemorar 50 anos e alguns testemunhos vivos combatentes pela independência a testemunharem jovens presos na cadeia por delito de opinião, porque criticaram o Presidente da República, porque o partido da maioria está a aprovar leis repressivas das liberdades”, criticou.
O Presidente angolano disse, em agosto, que “há vários motivos para se comemorar em grande”, os 50 anos de independência do país, depois de várias décadas de guerra, salientando que o país conquistou a paz e está “a construir uma pátria de irmãos reconciliados que souberam perdoar-se mutuamente”.
Costa Júnior lamentou, na sua intervenção, as “constantes violações” dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos em Angola, referindo que o direito à vida é violado “com normalidade”, quando persistem a censura nos órgãos de informação e a violação sistemática das liberdades de reunião de manifestação. “Se a Constituição proíbe a pena de morte, a facilidade do uso do gatilho [por parte dos agentes de defesa e segurança] contra as populações é também proibida.
O direito à vida é inviolável e devemos acabar com estas violações”, apontou, citando relatos de “mortes constantes” de jovens e cidadãos, alegadamente pelas forças da ordem.
O responsável criticou o que denominou de “estado de abandono” a que estão voltados milhares de antigos combatentes a nível das 18 províncias angolanas, afirmando que o Estado “continua a fazer uma gestão partidária deste processo, o que concorre para o desespero e mortes destes. Para o líder da UNITA, o atual “despesismo das contas públicas, com ajustes diretos do Presidente da República em milhões de dólares, é preocupante”, referindo que o país está em pobreza extrema por culpa de “dirigentes não democráticos que violam as leis e regulamentos”.
O presidente da UNITA disse, por outro lado, que o seu partido não se move pela política do “bota-abaixo”, sustentando que faz intervenções com abordagens positivas para uma Angola melhor. “Sem diálogo não se vai à lado nenhum, sozinho não se vai a lado nenhum, um Estado que não respeita as liberdades não tem desenvolvimento”, indicou. Assegurou ainda que o propalado terceiro mandato do Presidente da República – a Constituição Angola determina apenas dois mandatos – não vai acontecer porque a UNITA “não vai dar nenhum aval à violação da Constituição.