O ex-líder do banco angolano terá usado verbas do BES Angola para ajudar o clube a adquirir um autocarro de luxo para a equipa principal, a realizar obras na academia de Alcochete, entre outros investimentos. Tudo "com fundos indevidamente apropriados pelo arguido, disponíveis nas contas do BESA domiciliadas no BES".
Álvaro Sobrinho está na mira da Justiça, acusado de 23 crimes de abuso de confiança agravada e branqueamento de capitais. Entre os ilícitos imputados ao empresário, que se terá apropriado de quase 400 milhões de euros do BES Angola, está o desvio de 15 milhões de euros da entidade bancária para a Sociedade Desportiva leonina.
O empresário luso-angolano é suspeito de ter investido na SAD do Sporting com dinheiro proveniente do BES Angola (BESA), instituição que presidiu entre 2001 e 2012, através da Holdimo.
O Ministério Público (MP) realça as “fortes ligações ao Sporting", que iam além da “sua filiação clubística”. “Com o propósito de ajudar o clube de futebol, consumiu os fundos existentes na conta do BESA, apropriando-se dos mesmos, como se lhe pertencessem, bem sabendo que os valores disponíveis se destinavam a financiar a atividade do banco e que atuava em violação clara dessa finalidade”.
Holdimo, o parceiro “estratégico”
No caso do desvio para o Sporting tudo aconteceu em 2011 e 2012, numa altura de grandes dificuldades económicas para o clube de Alvalade. Mais tarde, em 2014, as dívidas da SAD do Sporting à empresa Holdimo, liderada por Álvaro Sobrinho, ascendiam a mais de 15 milhões de euros. Sem capacidade de pagar o valor em causa e sob o risco de ter de abrir mão dos jogadores que Sobrinho ajudara a manter, o clube de Alvalade converteu a dívida em capital da SAD. Desde então, a Holdimo passou a deter 29,8% da sociedade leonina e é, ainda hoje, o maior acionista, logo a seguir ao próprio clube.
A empresa de Álvaro Sobrinho consolidou-se como um dos principais parceiros do clube leonino. A Holdimo chegou a assinar, inclusive, um contrato de parceria e de cooperação financeira-desportiva com o Sporting, passando a deter parte dos direitos económicos de um lote de 17 jogadores do plantel à altura (passaram a ser 28 numa segunda fase) e que incluía nomes como João Pereira, Matías Fernandez, João Gonçalves, Rui Patrício, Wilson Eduardo, André Santos, Yannick Djaló, José Lopes Zézinho, Bruma, André Martins, Luís Ribeiro, Juary Soares, Tiago Ilori, Renato Neto, Cedric Soares, João Mário e Ricardo Esgaio.
Além destas percentagens de passes, vários investimentos terão sido feitos no universo verde e branco, provenientes da esfera de Sobrinho.
Milhões angolanos no centro dos investimentos leoninos
Em 2013, numa altura em que o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, anunciou o final da parceria estratégica com Portugal, o Sporting de Bruno de Carvalho parecia estar em contraciclo com o resto do país, uma vez que o acordo entre os leões e a Holdimo estava cada vez mais forte.
Como consequência desta sinergia, a formação verde e branca preparava então a mudança do relvado de Alvalade no final da temporada e a aquisição de um novo autocarro para a equipa principal, mudanças “patrocinadas” pela empresa angolana.
O valor do novo autocarro do clube, à época considerado “de luxo”, avaliado em 650 mil euros, era visto como um impedimento para os debilitados cofres do clube. Os milhões angolanos ajudaram a tornar o impossível realidade.
A isto somaram-se obras de requalificação na academia de Alcochete, vista como um elemento essencial neste processo de menor fulgor económico. A Holdimo apoiou financeiramente a remodelação do Estádio Aurélio Pereira, dotando-o das condições exigidas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) para a participação da equipa secundária dos leões no campeonato da II Liga, nomeadamente com a construção de uma nova bancada com capacidade para 1250 lugares; instalação de um novo sistema de iluminação; construção de um novo parque de estacionamento – trabalhos na ordem de um milhão de euros.
Estes são alguns dos contornos de uma parceria fundamental aos olhos dos adeptos leoninos, e que serviu de boia de salvação para o clube num momento de aflição, mas com uma interpretação distinta por parte do Ministério Público.
Porto Canal