A referida investigação envolve diversas personalidades angolanas, incluindo algumas ao mais alto nível, por casos de alta corrupção que, entre outros, destaca desvio de fundos públicos e branqueamento de capitais no exterior
No desvio de fundos públicos e branqueamento de capitais, Minoru Dondo é descrito na investigação do FCPA, associado a altas individualidades, tais como Edeltrudes Costa, o director do Gabinete do Presidente João Lourenço, e Manuel Vicente, entre outros, que terão beneficiado de contratos “fantasmas” e acumularam quantidades massivas de riquezas inexplicadas.
De acordo com informações a que se teve acesso, “as provas recolhidas pela investigação dos Estados Unidos da América (EUA), essa riqueza inexplicada, tem sido gerida por empresas controladas superiormente, como o Banco BAI e o Banco SOL”.
A investigação está à procura de identificar as contas correspondentes ou afiliadas directamente aos EUA para catalogar as entidades ou indivíduos usados para facilitar a compra de bens com fundos directamente ligados a subornos e corrupção nos EUA e outros locais.
O resultado desta revisão pode identificar potenciais violações da Lei de Sigilo Bancário e dos estatutos conexos, assim como fraude de correio ou fraude electrónica, a Travel Act, e a FCPA, ou seja, a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior, instituída pelos Estados Unidos da América em 1977.
Recorde-se que, no âmbito da cruzada contra a corrupção, branqueamento de capitais, nepotismo, entre outros, no país, muita coisa tem passado despercebida, ou são propositadamente esquecidas, porque envolvem as elites que mandam no país.
Casos como o de Minoru Dondo são vários e as autoridades, ao que parece, fingem não conhecer tais acontecimentos, deixam-se embalar e preferem adormecer à “sombra da bananeira”.
O caso de Minoru Dondo é, no mínimo, até caricato. É em Angola que ele faz e desfaz com a cumplicidade de angolanos desonestos e anti-patriotas. Injecta riqueza no Brasil, seu país de origem, mas é lá, no Brasil, apesar dos benefícios que recebem dele, que o homem começou a ser investigado por actividades ilícitas, branqueamento de capitais, entre outros.
Em Angola, onde subtraí de forma ilícita enormes somas monetárias e não só, as próprias autoridades ainda lhe fazem vênia, oferecem-lhe mais negócios, injectam capital público e o consideram como o “salvador da Pátria”, o que “ensina os angolanos a comer e a viver”.
As autoridades angolanas “blindaram” o indíviduo ao mais alto nível e dão-lhe “carta branca” para tudo. Como se não bastasse, um verdadeiro “exército” de bajuladores, de corruptos, lambe-botas e de toda a espécie de malandros, desde governantes, autoridades policiais, de segurança, judiciais, entre outros, encobrem-no, em troca de míseras benesses, vendendo ao desbarato a Pátria e os angolanos sacrificados e honestos.
Ainda dizem que foi o “milagre angolano” que enriqueceu Minoru, assim como tantos outros pulhas da mesma espécie. Então esse “milagre angolano” não devia fazer bem aos angolanos em geral? Não devia criar bem-estar para todos e desenvolvimento do país?
A menos que o Presidente João Lourenço esteja a comer no mesmo prato deixado por José Eduardo dos Santos, sendo ele próprio que levantou a bandeira da luta contra a corrupção, do repatriamento de capitais que se encontram no exterior do país e crimes conexos, Valdomiro Minoru Dondo e seus comparsas angolanos e estrangeiros, devem ser imediatamente presos e ouvidos na PGR, porque o dossier é bem conhecido, assim como o seu envolvimento na delapidação do nosso país.
Grande parte dos seus bens e empresas em Angola já deviam reverter a favor do Estado, segundo a lei do repatriamento coercivo de capitais e bens. Caso assim não seja, então não vale nada estar a falar em combater a corrupção, prendendo uns poucos e deixando a maioria fazendo sempre o mesmo, ou seja, a roubar e a desgraçar o país.
O empresário brasileiro de descendência japonesa e naturalizado angolano, Valdomiro Minoru Dondo, um dos homens mais ricos e poderosos de Angola e dono da empresa Macon, foi alvo da “Operação Le Coq”, que mobilizou cerca de 60 agentes da Polícia Federal (PF) no Rio, para o cumprimento de quatro mandados de condução coerciva e 12 de busca e apreensão.
A pedido da Justiça francesa, o Ministério Público Federal, em parceria com a PF, investiga a utilização de intermediários em contratos entre o governo angolano e empresas estrangeiras na produção de papel moeda mediante pagamento de 45 milhões de dólares de comissão (micha).
Duas juízas francesas acompanharam a operação. Na altura, Minoru e Oscar Henrique Durão Vieira, um dos sócios do negócio, não foram encontrados pela PF, mas os agentes conduziram, sob coerção, Vicente Cordeiro de Lima e Gerson Antônio de Souza Nascimento, com quem foram apreendidos 127 relógios no valor superior a 1 milhão de Reais.
Os quatro são acusados de participar de esquema que lesou contratos do Banco Nacional de Angola (BNA) com a empresa francesa Oberthur, especializada na fabricação de papel moeda.
De acordo com investigações iniciadas na França, os brasileiros, associados a angolanos e fazendo-se de representantes da Oberthur, teriam recebido comissões de 35% no valor dos contratos com o BNA, entre 2001 e 2012, à revelia da empresa francesa.
Para isso, criaram uma cadeia de empresas de fachada, localizadas em Portugal e Hong Kong, que recebiam a comissão.
O “manda-chuva”, dito angolano, tem centenas de propriedades e negócios em Luanda, e luxuosos apartamentos em Miami, São Paulo e Rio de Janeiro – onde é patrono da escola de Samba Unidos da Tijuca. Ele lidera um conglomerado de empresas em negócios que envolvem shopping centers, o ramo de transporte, equipamentos, comércio exterior – empresas estas favorecidas há anos por financiamento do BNDES.
Reza a lenda que Minoru guarda o dinheiro que ganha em paraísos fiscais como a Ilha da Madeira e Ilhas Cayman, entre outros. Os seus negócios em Angola, iniciados nos anos 1980, prosperam na mesma velocidade em que correm as histórias sobre a sua obscura relação com o poder, marcada por denúncias de favorecimento, licitações fraudulentas e evasão de recursos. Nos negócios de Minoru, não há limites entre o público e o privado.
Como pessoa física, é sócio de Pedro Sebastião Teta, antigo vice-ministro da Ciência e Tecnologia, na Júpiter, do brigadeiro Leopoldino Fragoso “Dino”, na Supermar, da irmã da ex-primeira-dama, Artemísia Cristina Cristóvão de Lemos, no Bob’s, novamente de Leopoldino Fragoso, na Tilápia Psicultura, de Pitra Neto, ex-ministro do Trabalho e Segurança Social, na 2000 Empreendimentos, do ex-chefe da Casa Militar da Presidência e antigo director do Gabinete de Reconstrução Nacional, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, na Medicamentos e Cosméticos do Prenda, e ainda, como pessoa jurídica (pela Midras), do ex-ministro das Finanças José Pedro de Morais, na Gesa Health.
Minoru é também o terceiro maior accionista do BNI, banco que tem na composição societária novamente o ex-ministro José Pedro de Morais, o ex-chefe de Estado Maior e general do Exército, João de Matos, e o ex-presidente da Assembleia Nacional, Paulo Kassoma, representado pela filha, Kanda.
Para um país com cerca de 50% da população abaixo da linha da pobreza, que figura entre os piores do planeta em índice de desenvolvimento humano, Minoru é um fenômeno.
Oficialmente, as suas empresas lucravam anualmente à volta de 90 milhões de dólares. Ele actua nas áreas de importação e exportação, fornecimento de bens alimentícios, saúde e fármacos, comunicação e tecnologias de informação, hotelaria e restaurantes, pesca, transporte público, shopping centers, construção e incorporação de imóveis. Ao que tudo indica, “muita água ainda pode correr por baixo da ponte” quanto ao real desfecho deste “caso”.
Texto de Japer Kanambwa, in Angola em Linha