Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Agropecuária de Angola (AAPA), Wanderley Ribeiro, disse que o tema é uma preocupação para a classe empresarial, agravada pelo facto de os insumos serem quase todos importados, “desde o conhecimento à semente”.
“Vão começar a chegar agora ao país com um preço muito elevado, isso vai fazer com que o custo de produção seja mais elevado ainda. Nós já temos uma estrutura e custo de produção que é muito alta, sem termos estes fenómenos cambiais que estamos a viver agora”, frisou.
Além da importação dos insumos, Wanderley Ribeiro expressou preocupação com o pagamento de salários, sobretudo nas grandes fazendas.
“Temos uma estatística de que as 30 maiores fazendas do país estão a ser dirigidas por aproximadamente 90% expatriados e entra aqui depois uma dificuldade de tesouraria para conseguir pagar esses salários e tudo isso quem vai ter que pagar é o consumidor final, vai ter que ser embutido no preço do produto, então estamos a prever o agravamento da inflação fruto do aumento do custo de produção”, vincou.
Por outro lado, esta situação estimula a procura interna da parte dos grandes importadores, mas é preciso haver disponibilidade de produto.
“E o que nós temos sentido, sobretudo por não terem arrancado ainda os programas macro definidos pelo Governo, do Planagrão e outros, que viriam ajudar o setor a fazer uma operação de alavancagem, de modo a ter condições de no final deste ano, início do próximo ano, ter uma disponibilidade maior de produtos, até este momento ainda não se sabe da disponibilidade desses recursos, então as empresas também não estão a poder se financiar, conseguir avançar com a sua produção”, disse.
O presidente da AAPA para já antevê o aumento da inflação e para fazer face à situação, “um remédio que não tem efeito imediato”, o aumento da produção interna.
“Tudo isto é provocado por conta da nossa produção praticamente inexistente, temos vindo a promover muito a questão do aumento da produção nacional, mas é preciso que efetivamente se dê prioridade à produção nacional. A prioridade deve estar onde está o recurso e não onde está o discurso”, destacou, observando que “a agricultura não tem recurso, não vê os mecanismos de financiamento que garantam efetivamente a produção”, aliado aos recursos humanos angolanos, ainda com poucos “que cumpram os requisitos ou nível de ‘expertise’ que as empresas buscam”.
Por sua vez, o vice-presidente da Associação Industrial de Angola referiu que as empresas estão a ressentir a alta dos valores de importação, que afeta no final quer empresas quer consumidores.
Eliseu Gaspar considerou que há um conjunto de medidas a serem tomadas para reverter o quadro, primeiro o aumento da produção interna, seguido da diversificação a economia, “que não seja apenas uma retórica, mas que seja um facto”.
“Outra medida estruturante que estão a ser propostas nos últimos dias por vários representantes da classe empresarial angolana é que as petrolíferas devem pagar em moeda estrangeira aqui, porque o que se verifica agora é que as empresas pagam em kwanzas e eles só transferem o cambial correspondente aos kwanzas das despesas e o resto do valor fica fora do país, a banca angolana e o mercado angolano não usufrui da venda do petróleo, o que usufrui é um valor residual pago em kwanzas para as suas despesas” realçou.
Segundo Eliseu Gaspar, grande parte dos serviços prestados às companhias petrolíferas é feito por empresas estrangeiras e é pago fora do país em divisas, “portanto, há que inverter esse quadro”, propondo uma revisão à lei.
O vice-presidente da associação das indústrias citou também as dificuldades para a importação de matérias-primas, “salvo raras exceções”, por conta da insuficiente produção interna, lembrando que “até cereais, a cesta básica, é quase tudo importado”.
Já o líder da Associação de Pesca Artesanal, Semi Industrial e Industrial de Luanda (Apasil), Manuel Azevedo, disse que “o dólar sobe e tudo sobe”.
“Nós vivemos de importação, tudo o que é usado na atividade pesqueira é importado, para o barco, a única coisa que não mandamos vir de fora é o prego, a cinta e a madeira, tudo o resto vem de fora, então com o câmbio elevado temos que ajustar, nunca aumentamos o preço, nós ajustamos”, avançou.
Manuel Azevedo salientou que é preciso fazer ajustes porque o poder aquisitivo da população diminuiu, concordando com os seus colegas que a desvalorização deve ser travada com a produção nacional.
O kwanza, que sofre depreciação há várias semanas, desvalorizou na semana passada 12% em apenas uma semana, fixando-se hoje nos 755 kwanzas por dólar e 825 kwanzas por euro, segundo o câmbio oficial do Banco Nacional de Angola (BNA).