Grupo Carrinho aborda mudança na gestão e diz que nunca esteve directamente ligado à Reserva Alimentar

Apresentada como gestora da Reserva Estratégica Alimentar (REA) até mesmo pelos Ministérios da Indústria e Comércio e da Agricultura, a Carrinho Empreendimentos esclarece, agora em fase de rescisão de contrato, quase dois anos antes do previsto, que "nunca teve relação directa" com este mecanismo criado pelo Governo angolano para regular os preços dos produtos da cesta básica, trazendo a público o nome da Gescesta, Companhia Angolana de Segurança Alimentar.

Neste esclarecimento, quarta-feira, 06, no seguimento da celebração do seu trigésimo aniversário, a Carrinho acrescenta que a logística e a importação de bens estiveram a cargo da Gescesta, "remunerada" para o efeito, e sublinha que a sua participação decorreu da terceirização de serviços.

Após a desistência da Gemcorp, empresa que fez parte do consórcio vencedor do concurso público, o nome do Grupo Carrinho esteve sempre em voga quando se olhava para a Reserva Estratégica Alimentar (REA), principalmente em fases de aumento de preços, mas os seus administradores fazem questão de "elucidar" os angolanos.

No arranque de uma conferência de imprensa que durou pouco mais de duas horas, o presidente do Conselho de Administração, Nelson Carrinho, argumentou que a Gescesta "nem sequer é accionista da Carrinho", sempre na perspectiva de vincar a "inexistência de qualquer relação".

A Gescesta, segundo registos consultados pelo NJ, é detida pela Tools and Food Service LDA, que tem como accionistas o próprio Nelson Fidel Candundo Carrinho, o seu irmão, Rui Alves Candundo Carrinho, ambos sócios da Carrinho Empreendimentos, e Arsênio Manuel Moma Chocolomuenho.

Pertencente à primeira Repartição Fiscal de Luanda, a Companhia Angolana de Segurança Alimentar foi criada a 25 de Maio de 2021, justamente na altura do concurso público internacional para a gestão da REA, que viria a ser operacionalizada seis meses depois.

Começou, segundo dados oficiais, com mais de 200 milhões de dólares, com primazia para a importação de onze produtos essenciais.

Quase dois anos depois, e faltando quinze meses para o fim do contrato, surge com Nelson Carrinho a confirmação do que já se cogitava: "Sim, posso confirmar que ela [Gescesta] foi informada de que a nova visão da equipa económica do Governo ... um novo modelo para a Reserva vai implicar mudanças".

Esta "cessação de contrato por acordo mútuo" tinha merecido uma apreciação crítica do economista e agente comunitário Abílio Sanjaia, numa declaração dirigida ao Governo.

"É preciso transparência, devemos, enquanto contribuintes, saber da motivação para a prematura mudança na gestão", afirmou o igualmente director de projectos na Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA).

Sanjaia pretende saber se os objetivos foram alcançados e, "mais importante", se é possível que desta experiência saiam ilações para o futuro.

"Quais são os resultados da autoria"?, pergunta o agente comunitário, acrescentando que "as regras da transparência e da boa governação exigem que o Governo angolano preste esclarecimentos sobre isso".

Quanto a este ponto, o administrador não-executivo da Carrinho, Acandel Chivaca, assinalou que a auditoria é uma obrigação legal, uma vez que "os fundos públicos devem ser fiscalizados", e disse que o grupo não terá problemas em tornar público o relatório final.

Também a UNITA, partido líder da oposição, tem a Carrinho, à semelhança de milhares de angolanos, como gestora da REA, que constitui, como se sabe, um objecto do processo de destituição do Presidente da República, João Lourenço.

Nos corredores do Ministério da Indústria e Comércio, conforme levantamentos do NJ, este novo modelo de gestão é visto como "não oficial", já que decorrem ainda várias inspecções ao abrigo da auditoria.

Embora não se conheça ao pormenor, é ponto assente que a nova estratégia deverá ter participação activa do Entreposto Aduaneiro de Angola (EAA), prevalecendo reticências em relação a um novo concurso público, anunciado pelo ex-ministro da Indústria e Comércio, Víctor Fernandes, numa entrevista ao Expansão. NJ