Valdomiro Minoru, o brasileiro sinônimo de poder em Angola

Quando o empresário Valdomiro Minoru Dondo encomendou um bolo gigante, em forma de bolsa Louis Vuitton, a intenção era agradar à mulher, que comemorava 40 anos em festa no Museu Histórico Nacional, na Praça XV. Sem querer, porém, o anfitrião ajudava ali a escrever um pedaço da História de Angola.

 

Naquela noite de novembro de 2008, Agla Dondo não seria a única homenageada. Ao brindar ao casal, os convidados festejaram também a entrada em cena de uma nova elite econômica da África. Gente como os Dondo, que souberam fazer fortuna ao sabor do milagre angolano alavancado pelo petróleo (salto de 0,1% do PIB nos anos 1990 para uma previsão de 10,5% no ano que vem).

Filho de imigrantes japoneses, Minoru nasceu no interior de São Paulo. Jovem, mudou-se para o Rio. Mas foi em Angola, após cair nas graças do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido há três décadas no poder, que ele virou mito. Num país devastado pela guerra civil, enriqueceu tendo como sócias as mesmas autoridades que compram os seus seviços. Ele garante que não está entre os 20 maiores empresários daquele país, mas é modéstia. Minoru é visto como um dos dez homens mais ricos de Angola, lista praticamente composta por generais e outros membros do governo central. Seus negócios, iniciados nos anos 1980, prosperam na mesma velocidade em que correm as histórias sobre a sua obscura relação com o poder, marcada por denúncias de favorecimento, licitações fraudulentas e evasão de recursos.

— Intriga de funcionário demitido. Sofremos uma ampla investigação, mas a Inspeção Geral do Estado nos inocentou — disse o empresário.

Com mais de 20 empresas em Angola, cinco no Brasil (no ramo de importação e exportação) e residências no Rio, Luanda e Miami, Minoru não gosta de perder tempo em aeroportos. Com cidadania angolana, não precisa de visto em Luanda. É amigo do presidente José Eduardo dos Santos e oferece apartamentos para reuniões ministeriais. No Rio, amizades na Polícia Federal e no mundo do samba lhe garantem regalias e discreta notoriedade. Ao desembarcar, não entra em fila. Há sempre um policial a aguardá-lo. Na quadra da uma escola de samba do Grupo Especial, já foi chamado de patrono.

No Aeroporto Internacional do Rio, não é difícil saber quando Minoru está chegando. Basta conferir a presença do agente federal aposentado Aroldo Oliveira Mendonça, sempre pronto a livrá-lo de incômodos do desembarque. Aposentado há três anos, Aroldo entra livremente na área restrita. Ex-dirigente da Unidos da Tijuca, amigo dos diretores da Liga das Escolas de Samba, o agente passou parte da carreira no aeroporto. Hoje, quer ser sócio de Minoru.

No ano passado, a Superintendência da Polícia Federal no Rio instaurou processo administrativo disciplinar contra o delegado Rodrigo de Souza Alves e sua mulher, a escrivã Érika Cerqueira de Carvalho. O objetivo era o de apurar as circunstâncias que teriam levado Minoru a custear, em outubro de 2008, a viagem do casal a Angola. Ambos, na época, eram lotados no aeroporto. As passagens e diárias de hotel foram pagas pela Promoangol, holding do grupo angolano VMD, de Minoru.

Amigo de Aroldo, Rodrigo frequentou, ao lado de outro delegado federal, Leonardo Tavares, o camarote do agente na Unidos da Tijuca. No banco de dados da PF, consta que Minoru, no período de agosto de 2008 a fevereiro de 2010, entrou e saiu do país aproximadamente 70 vezes, sendo 15 no plantão de Rodrigo e outras 14 no plantão de Leonardo.

—- Nos meus plantões, é possível que ele tenha saído da fila, mas o privilégio termina aí — diz Leonardo.

Os negócios de Minoru se estendem também a jogos de azar. Há oito anos, uma de suas empresas remeteu 144 máquinas caça-níqueis do Brasil para Angola, por encomenda de outra empresa então de sua propriedade em Luanda, a África Trevo, uma das três autorizadas pelo governo local a explorar oficialmente os jogos de azar naquele país. Ele foi responsável também pelo lançamento da loteria "Raspadinha da sorte" em Angola.

Para um país com 37% da população abaixo da linha da pobreza, que figura entre os piores do planeta em índice de desenvolvimento humano, Minoru é um fenômeno. Oficialmente, suas empresas lucraram no ano passado US$ 90 milhões. Ele atua nas áreas de importação e exportação, fornecimento de bens alimentícios, TI, saúde e fármacos, comunicação, hotelaria e restaurantes, pesca, transporte público, shopping centers, construção e incorporação de imóveis. GLOBO