A filha da malograda apresentou, há dias, uma queixa-crime contra o marido da senhora, um pastor, para que seja responsabilizado criminalmente pela morte, ocorrida a 14 de Janeiro.
De acordo com uma filha da malograda e enteada do pastor, que preferiu não ser identificada, a queixa-crime é sustentada com a alegação de que a mãe foi vítima de "cárcere privado”, na Igreja Pentecostal Coração Profético - o Poder de Deus, para onde Joana João Andrade, de 42 anos, foi levada pelo marido para apenas receber "trabalho espiritual”, para a cura da doença de que padecia, tese contestada pelo acusado, que alegou não ser prática da Igreja o recurso à "medicação espiritual”.
A filha de Joana João Andrade denunciou que a mãe foi mantida "refém” pelo marido, Hélder Vasco Cortez, que "não a deixava sair da igreja por nada”, com a promessa de cura à base de "trabalho espiritual”.
Com o estado de saúde a inspirar cuidados médicos, caracterizado por inflamação da barriga, a mulher acabou por ser levada pelo marido, cerca de uma semana depois, por insistência da família, para o Hospital Municipal do Zango, de onde saiu, no mesmo dia (11 de Janeiro), para a casa em que vivia, no Zango IV.
No dia seguinte, o quadro clínico da mulher agravou-se, sendo o motivo da sua entrada no Hospital Geral de Luanda, onde foi submetida a uma intervenção cirúrgica de emergência, por, segundo a filha, ter chegado àquela unidade hospitalar pública com "os intestinos perfurados, de onde saía um líquido preto”.
A morte da mulher, ocorrida quatro dias depois da realização da cirurgia, é atribuída pela família ao pastor, por ter mantido a esposa na igreja sem receber nenhum tipo de assistência médica durante cerca de uma semana.
Revoltada, parentes de Joana João Andrade, sobretudo a do lado materno, disseram ao Jornal de Angola que esperam por justiça, para que a conduta do pastor, de 36 anos, não fique impune, tendo alguns dos familiares admitido que a Igreja Pentecostal Coração Profético - o Poder de Deus esteja a exercer actividade religiosa ilegalmente.
O corpo de Joana foi sepultado quarta-feira, no Cemitério de Sant’Ana. Antes deste fatídico acontecimento, a mulher viveu com o pastor por oito anos, em cujo período fizeram três filhos, nenhum dos quais está vivo, informou a enteada do pastor, acentuando que o terceiro filho morreu aos dois anos, no dia 21 de Dezembro passado.
Marido nega acusações
Contactado na quinta-feira, por telefone, Hélder Vasco Cortez, que se identificou como "profeta”, desmentiu que a sua esposa tenha sido mantida em "cárcere privado” e disse não ser também verdade que tenha permanecido cerca de uma semana no templo, argumentando que "ela ia para a igreja e voltava para a casa”.
"Se eu tivesse mantido a minha mulher como refém, a família dela teria ido à igreja fazer confusão, aproveitando-se do facto de a igreja estar mesmo ao lado de uma esquadra policial”, sublinhou Hélder Vasco Cortez, que, citando o boletim de óbito, passado pelo HGL, disse terem sido causas da morte da esposa a hepatite e a malária.
HGL confirma chegada tardia de paciente
O programa "Fala Angola”, da TV-Zimbo, passou, na quinta-feira, uma peça sobre o caso, em que se ouviu a direcção do hospital, que confirmou ter recebido a mulher "já bastante debilitada”.
A reportagem passou imagens do recinto da igreja, em cuja fachada central está escrito "Igreja Pentecostal Coração Profético – o Poder de Deus”, cujo nome o pastor disse ao Jornal de Angola não ser o da igreja a que pertence. "A minha denomina-se Igreja Ministerial Cristã”, esclareceu o viúvo.
A filha da malograda e mais alguns familiares disseram que a igreja onde a vítima foi mantida, como alegam, em "cárcere privado” não se chama Igreja Ministerial Cristã, como avançou o pastor Hélder Vasco Cortez.
O nome Igreja Ministerial Cristã foi avançado pelo pastor depois de muita insistência do repórter, que soube, também, do próprio que a seita mencionada "está em processo de legalização”.
Ontem, o jornal tentou, mas sem êxito, contactar o responsável pelo Sector da Cultura do município de Viana, para dar alguma informação sobre a situação jurídica de ambas as instituições religiosas, uma citada pela família de Joana João Andrade e outra apontada pelo pastor Hélder Vasco Cortez. JA