"Angola é o país com mais potencial para responder às necessidades energéticas da União Europeia a curto prazo; é um dos poucos países na região que já exporta gás para os mercados internacionais, incluindo Brasil, Japão, China e Coreia do Sul", disse Marisa Lourenço, em declarações à Lusa a propósito da nova política energética europeia.
Em causa está a tentativa dos países ocidentais de diversificarem as compras de gás à Rússia, e a perspetiva de que os países africanos produtores de gás podem ser uma alternativa viável.
"A capacidade de aumentar a produção de gás, juntamente com a cadeia de fornecimento já bem estabelecida, torna este país o imediato vencedor da mudança geopolítica originada pela guerra na Ucrânia, com a Guiné Equatorial, a República Democrática do Congo, a Mauritânia e o Senegal a estarem bem posicionados para beneficiar nos próximos dois a três anos", disse a analista.
"Angola não só tem já uma infraestrutura de exportações que lhe dá uma vantagem face aos pares regionais, permitindo à União Europeia aceder às cadeias de fornecimento, como as principais petrolíferas não têm de investir tanto capital para aceder às reservas, e é capaz de aumentar a produção", acrescentou a analista.
Elogiando a Sonangol como "uma empresa competente que é capaz de atrair trabalhadores estrangeiros altamente qualificados", a analista da Control Risks salienta que os países europeus já estão a olhar para Angola, exemplificando com o "importante acordo" entre a Itália e o país lusófono africano para "diversificar as fontes de energia".
As oportunidades para Angola vão também surgir "dos profundos laços históricos com Portugal e com a França, bem como do fortalecimento da relação com a Alemanha desde que João Lourenço chegou ao poder, em 2017".
Questionada sobre as perspetivas da Guiné Equatorial e de Moçambique, que será um dos maiores produtores de gás a nível mundial no final desta década, Marisa Lourenço respondeu: "Moçambique, tal como a Nigéria, não vão conseguir aproveitar a oportunidade, o primeiro devido à volátil situação de segurança, e o segundo devido ao desenvolvimento limitado do setor gasista e a um confuso enquadramento regulamentar".
A insurgência militar em Moçambique, na província de Cabo Delgado, "está a atrasar a evolução do país de um pequeno produtor que vende a maior parte da produção à África do Sul, para um exportador global", com as exportações a deverem começar em 2026, "mas esta data ainda está sujeita ao ambiente volátil de segurança".
Sobre a Guiné Equatorial, a analista sul-africana diz que o país deverá beneficiar da sua ligação com Espanha, que é o maior parceiro comercial, "o que significa que terá a oportunidade de reavivar os adormecidos campos gasistas para servir outros mercados na União Europeia nos próximos dois a três anos".
A Guiné Equatorial, tal como Angola, "já tem a infraestrutura de exportação preparada, com carregamentos não só para Espanha, mas também para o Chile e para os Estados Unidos, mas uma burocracia ineficiente prejudica a atratividade do mercado, embora o aumento da procura e a oportunidade de as principais empresas petrolíferas se afastarem da Rússia possa motivar melhorias no ambiente empresarial".
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e a ofensiva militar provocou já a morte de mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.