Ela tinha 84 anos e morreu vítima de câncer, disseram familiares em rede social. "Estamos com o coração partido em anunciar que a dra. Madeleine K. Albright, a 64ª secretária de Estado dos EUA e a primeira mulher a ocupar esse cargo, faleceu hoje cedo. A causa foi câncer", escreveu a família no Twitter.
Albright entrou na carreira diplomática ao ser nomeada embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, em 1993, cargo que ocupou até virar secretária de Estado em 1997.
Na ONU, pressionou por uma linha mais dura contra os sérvios durante a guerra da Bósnia, depois que a capital, Sarajevo, foi sitiada, mas enfrentou resistência no próprio governo Clinton, quando especialistas em política externa da gestão democrata se lembravam das dificuldades dos Estados Unidos no Vietnã e estavam determinados a não se envolver nos Bálcãs.
Os EUA só responderam três anos depois, quando soldados sérvios-bósnios invadiram enclaves muçulmanos e mataram mais de 8.000 pessoas. Por meio da Otan, os americanos fizeram ataques aéreos para forçar o fim do conflito. Mas foi em 1999, já durante o mandato de Albright como secretária de Estado, a ação mais incisiva dos americanos na região, quando bombardearam por 11 semanas a antiga Iugoslávia, incluindo a capital, Belgrado, durante a guerra do Kosovo.
Vjosa Osmani, presidente do Kosovo, lamentou a morte da ex-secretária, dizendo estar "profundamente chocada pela morte da grande amiga" do país, cuja intervenção "deu esperança, quando não a tínhamos".
Defensora de um "internacionalismo muscular", diz James O'Brien, conselheiro sênior de Albright durante a guerra da Bósnia, irritou certa vez um membro do Pentágono ao questionar por que o país mantinha mais de 1 milhão de militares se nunca os usava.
No início do governo Clinton, apoiou um tribunal de crimes de guerra das Nações Unidas que acabou colocando o presidente sérvio Slobodan Milosevic e outros líderes sérvios na prisão.
Tornou-se conhecido um episódio de 1996 que exemplifica seu jeito linha-dura, quando caças cubanos derrubaram dois aviões americanos desarmados. Disse na ocasião: "Isso não são cojones [colhões, em espanhol], isso é covardia".
Durante os esforços para pressionar a Coreia do Norte a encerrar seu programa de armas nucleares, sem sucesso, a secretária viajou para Pyongyang em 2000 para se encontrar com o líder norte-coreano Kim Jong-il, tornando-se a autoridade de mais alto escalão dos EUA até então a visitar o país comunista.
Depois de deixar o posto ao fim do governo Clinton, Albright se tornou um ícone para uma geração de mulheres jovens que buscaram inspiração em sua luta por oportunidades e respeito no local de trabalho. Ela gostava de dizer: "Há um lugar especial no inferno para as mulheres que não se ajudam".
Era conhecida pelas joias que usava e escreveu um livro sobre o assunto, "Read My Pins: Stories from a Diplomat's Jewel Box" (leia meus broches: histórias da caixa de joias de uma diplomata), de 2009 —um dos vários best-sellers que assinou ao longo da vida.
Na obra, afirma que os broches funcionam como uma ferramenta diplomática: quando usava balões ou flores, estava otimista; quando usava caranguejos ou tartarugas, estava frustrada. Um de seus favoritos era um broche de cobra, em referência ao ditador iraquiano Saddam Hussein, que a chamou de "serpente sem paralelos".
REUTERS