"Já ouvimos declarações de responsáveis [ocidentais] sobre uma possível nacionalização de alguns dos nossos bens", disse o Presidente russo numa reunião sobre medidas de apoio ao setor agrícola e da indústria alimentar russos, numa referência ao caso da filial alemã da empresa de gás estatal russa Gazprom.
"Isto não nos leva a lado nenhum. Que ninguém se esqueça que esta faca tem dois gumes", advertiu Putin.
A agência governamental alemã para o controlo das redes de energia (Bundesnetzagentur) assumiu provisoriamente o controlo da filial alemã da russa Gazprom.
O anúncio foi feito na segunda-feira pelo ministro da Economia e vice-chanceler, Robert Habeck, que considerou a medida necessária para garantir o abastecimento. O governante alegou falta de clareza jurídica sobre a situação da empresa e o facto da Gazprom não ter cumprido as regras de transparência, depois de ter anunciado que se iria desfazer da filial alemã.
Um dos problemas, disse Habeck, é a falta de clareza sobre quem seriam os novos proprietários da Gazprom Alemanha, e a revista "Der Spiegel" noticiou que a empresa estatal russa tinha procurado nos últimos dias transferir a filial alemã para uma empresa sediada em São Petersburgo.
A Gazprom Alemanha tem um papel fundamental no armazenamento, comércio e transporte do gás e o Governo alemão suspeitava que estava a usar taticamente as suas capacidades de armazenamento para tornar a crise dos preços do gás na Alemanha mais dramática.
O Presidente russo defendeu também, na reunião com o setor agrícola e alimentar russo hoje, "monitorizar" as entregas de alimentos a países "hostis" ao Kremlin, no meio de mais uma onda de sanções contra Moscovo que afetam muitos setores.
"Este ano, num contexto de escassez alimentar global, teremos de prestar mais atenção às entregas de alimentos ao estrangeiro e monitorizar, em particular, as condições destas exportações para países que estão a levar a cabo uma política hostil contra nós", disse Putin na reunião, transmitida pela televisão estatal.
O líder russo garantiu ainda que a produção alimentar nacional cobre "plenamente" as necessidades do país, salientando o "potencial" agrícola da Rússia.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.480 civis, incluindo 165 crianças, e feriu 2.195, entre os quais 266 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,2 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.