"As Forças de Defesa do Ruanda decidiram, desta vez de forma flagrante, violar a intangibilidade da nossa fronteira e a integridade do nosso território ao ocupar a cidade fronteiriça de Bunagana", no leste da RDCongo, denunciou o exército congolês em comunicado, após reiteradas acusações de Kinshasa contra Kigali por suposto apoio ao M23 durante os combates dos últimos dias.
"Isto constitui uma invasão da RDCongo, nem mais nem menos, e as Forças Armadas congolesas exigirão todas as consequências e defenderão a pátria", disse o porta-voz do governador militar da província de Kivu Norte, Sylvain Ekenge, em comunicado recolhido pelo portal congolês de notícias 7sur7.
Um porta-voz do Exército congolês, N'Djike Kaiko Guillaume, argumentou que as tropas se retiraram da cidade e cruzaram a fronteira com o Uganda "para não causar baixas entre a população civil, como os ruandeses queriam".
"Garantimos à população que as Forças Armadas da RDCongo estão na zona e contêm o inimigo. Atuamos de forma incessante para conseguir que os ruandeses e os seus filhos [em referência ao M23] sejam expulsos do território nacional", disse.
O M23, por seu lado, sublinhou em comunicado que o controlo de Bunagana não estava entre os seus objetivos e ofereceu ao Presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi, a possibilidade de diálogo para "procurar uma resposta às reivindicações por vias pacíficas".
"Pedimos uma vez mais ao Presidente que aproveite esta oportunidade para pôr fim à violência que provoca esta guerra inútil e para abrir negociações diretas com o nosso movimento para pôr fim ao conflito de forma definitiva", disse.
As relações entre o RDCongo e o Ruanda estão tensas desde a chegada em massa ao leste da RDCongo de hutus ruandeses acusados de massacrar os tutsis durante o genocídio ruandês de 1994.
Após uma fase de relaxamento diplomático, o conflito voltou a intensificar-se no final do mês passado, quando o Governo congolês convocou o embaixador ruandês para denunciar o suposto apoio do país ao M23.
O ministro dos Negócios Estrangeiros ruandês, Vicent Burita, rejeitou recentemente as acusações "infundadas" da RDCongo e sublinhou que é necessário resolver os problemas para evitar "um círculo vicioso de conflitos indesejados e destrutivos", acusando Kinshasa de albergar membros do grupo armado Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), fundado e formado principalmente por hutus responsáveis pelo genocídio.
O M23 é acusado desde novembro de 2021 de realizar ataques contra posições do Exército no Kivu do Norte, apesar de as autoridades congolesas e o M23 terem assinado um acordo de paz em dezembro de 2013 após os combates registados desde 2012 com o Exército, que foi apoiado por tropas das Nações Unidas.
Especialistas da ONU acusaram o Uganda e o Ruanda de apoiarem os rebeldes, acusações refutadas por ambos os países.
Angola tem procurado mediar a tensão entre os dois países, no âmbito de um mandato atribuído a Luanda pela União Africana na recente cimeira realizada em Malabo.
A 31 de maio, o Presidente angolano, João Lourenço, abordou com o Presidente Tshisekhedi "questões relativas à crescente tensão" entre a RDCongo e o Ruanda, tendo discutido "vários aspetos que podem contribuir para a resolução pacífica do diferendo entre os dois países".