General da RDCongo proclama que se o Ruanda "quer guerra, terá guerra"

O porta-voz do governador militar da província do Kivu do Norte, general Sylvain Ekenge, proclamou hoje perante milhares de manifestantes em Goma, capital regional da República Democrática do Congo (RDCongo), que se o Ruanda "quer guerra, terá guerra".

"Ruanda não gosta de nós. Nós não temos medo dele e iremos combatê-lo", declarou o general, citado pela agência Associated Press, acrescentando que ninguém "irá ocupar um único centímetro do nosso território".

Após estes comentários inflamados, Ekenge pediu à multidão que protestasse pacificamente, mas muitos tentaram forçar a passagem nos postos de fronteira que separam Goma, no leste da RDCongo, e Gisenyi, cidade ruandesa adjacente.

A polícia antimotim acabou por disparar gás lacrimogéneo contra estes manifestantes, registando-se pelo menos um ferido.

Segundo a agência France-Presse, a multidão era maioritariamente composta por jovens do sexo masculino que entoavam cânticos hostis ao Ruanda e ao seu Presidente, Paul Kagame.

Entre dezenas de aplausos, um manifestante, Eric, pediu ao Governo "uniformes [militares] e armas para lutar" contra os ruandeses e a "incursão do M23", o Movimento 23 de março.

Desde novembro de 2021, o grupo rebelde M23 é acusado de realizar ataques contra posições do Exército congolês no Kivu do Norte, apesar do acordo de paz assinado com as autoridades de Kinshasa em dezembro de 2013.

Esta trégua pôs fim aos combates registados desde 2012, nos quais o Exército da RDCongo recebeu o apoio de tropas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Embora ambos o neguem, a ONU acusa o Uganda e o Ruanda de apoiarem os rebeldes, na sua maioria congoleses da etnia tutsi, a que também pertence o Presidente ruandês.

Por sua vez, o M23 acusa as autoridades congolesas de alimentarem a xenofobia e quebrarem as promessas feitas no acordo de paz quanto à desmobilização e reintegração dos seus combatentes.

Na segunda-feira, os rebeldes tomaram a cidade de Bunagana, importante centro de trocas comerciais situado junto à fronteira com o Uganda.

Face a esta nova ofensiva, o Governo da RDCongo acusou o Ruanda de invadir o seu território.

Em resposta, o executivo ruandês culpou o Exército congolês de ferir vários civis em bombardeamentos transfronteiriços, transmitindo por comunicado que as suas forças armadas "continuarão a buscar garantias de que os ataques transfronteiriços ao território do Ruanda serão interrompidos".

Na noite de terça-feira, algumas centenas de pessoas manifestaram-se em Kinshasa, capital da RDCongo, para exigir o rompimento das relações diplomáticas com o Ruanda e pedir ao Presidente, Félix Tshisekedi, que quebrasse o silêncio.

Poucas horas mais tarde, o Governo congolês emitiu um comunicado condenando "a participação das autoridades ruandesas no apoio, financiamento e armamento desta rebelião" e prometendo defender "cada centímetro" do seu território.

As relações entre Kinshasa e Kigali são tensas há décadas, com ambos os países a acusarem-se de apoiar vários grupos armados rivais.

Além disso, o Ruanda alega que a RDCongo deu refúgio aos hutus que realizaram o genocídio de 1994 no Ruanda, onde morreram pelo menos 800.000 tutsis e hutus moderados.

Angola tem procurado mediar a tensão entre os dois países, no âmbito de um mandato atribuído a Luanda pela União Africana na recente cimeira realizada em Malabo.

Em 31 de maio, o Presidente angolano, João Lourenço, abordou com o Presidente Tshisekhedi "questões relativas à crescente tensão" entre a RDCongo e o Ruanda, tendo discutido "vários aspetos que podem contribuir para a resolução pacífica do diferendo entre os dois países".