Tribunal constitucional transformou-se em instituição de instabilidade política

Uma analise a cerca dos dados relativos à produtividade do Tribunal Constitucional  no que respeita ao tratamento tempestivo que dá às impugnações que afectam o partido MPLA, trás um detalhe interesse. O assunto é resolvido em 5 dias. 

Quando se realizaram as eleições de 2008, a UNITA   impugnou os resultados em Luanda por alegada falta de transparência. No dia 9 de setembro, este partido,  deu entrada de um  pedido de impugnação. Na semana seguinte, isto é, no   dia 16 do mesmo mês, o TC produziu o  Acórdão 74/2008, encerrando o assunto.  O TC resolveu o problema em cinco dias úteis. O assunto teve de ser resolvido em tempo recorde porque prejudicava o MPLA.

Como o tribunal constitucional resolve em uma semana assuntos do interesse do MPLA

Nas eleições de  2012, três  partidos da oposição impugnaram os resultados eleitorais.  Eis as datas de impugnação de cada um deles. No dia 13 de setembro a CASA-CE deu entrada do seu pedido de impugnação. No dia 14, o PRS e a UNITA fizeram a mesma coisa.

No dia 18/9/12, o TC reagiu produzindo o Acórdão 224 não dando razão a CASA-CE. Neste mesmo, TC produziu  um outro  Acórdão 225, rejeitando as reclamações do PRS. No dia 19/9/12, o TC concluiu o  Acórdão 226,  chumbando  igualmente as  contestações  da UNITA.

TC encerrou este problema em num espaço de cinco dias

Em todos os casos (eleições de 2008 e 2012) o MPLA foi o partido declarado vencedor. Nota-se que o Tribunal mobilizou-se, deu prioridade aos processos e resolveu tudo numa semana. Assim o fez,  porque  em caso de demora em decidir,  o MPLA ficaria prejudicado, pois o seu cabeça de lista precisava tomar posse como Presidente da República.

Para este ano de 2022, as eleições poderão ser convocadas no mês de  maio.  Até a semana passada os partidos que realizaram os seus congressos não tinham  sido comunicados pelo TC em que pé estavam o processo de  anotação  das suas direcções.

 O BD e a FNLA  realizaram  os  seus  congresso em Julho de 2021, e aguardam  a 8  meses sem reposta do TC. A UNITA realizou em dezembro aguardando resposta há 4 meses. O MPLA também realizou em Dezembro pensando sobre si, um processo de impugnação cujo  desfecho (seja qual for o resultado) não irá afectar  a escolha do seu cabeça de lista.

No dia 16 de Novembro de 2021, a Presidente do TC, Laurinda Cardoso   admitiu um “incidente de suspeição” sobre o caso Pereira da Silva  “Manico”  cujo processo  foi distribuído (sem sorteio) ao Juiz Carlos Teixeira. Já lá vão 5 meses. Não há sinais do processo, uma vez que uma eventual destituição do Presidente da CNE, é contra a voto  da bancada parlamentar do MPLA, que ai o endossou

CONCLUSÃO

Assuntos  que prejudicam o MPLA, o TC resolve em uma semana. Assuntos que prejudica a oposição,  o TC resolve  de 4 a 8 meses.  Com isso, O TC  viola o principio da igualdade ao não dar tratamento igual  aos partidos políticos em Angola.

O TC  transformou-se em  elemento de desestabilização política.   O TC é o único tribunal cujos processos são  propositadamente  distribuídos sem  sorteios. O antigo Presidente Rui Ferreira alegava que era por causa de processos sensíveis.  As direcções sequentes alegam que já encontraram isso assim, e nada fazem para alterar o quadro.

É necessário que o  TC  se reencontre. Que  faça  correções deste histórico  de priorizar com desfechos favoráveis aos  processos que possam  por  em causa a agenda do MPLA.  Angola deve debater sobre reformas da constituição partidarizada  do TC.

Por José Gama