Vários setores da sociedade angolana alegam que as intervenções públicas de Elias Salupeto Pena, ex-dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), muitas feitas alegadamente em “tom inflamatório”, concorreram para o “eclodir” do conflito armado em 1992.
Os restos mortais de Elias Salupeto Pena, ex-chefe da delegação da UNITA na Comissão Conjunta Político-Militar (CPPM), foram enterrados na tarde chuvosa deste sábado, na comuna de Lopitanga, município do Andulo, província angolana do Bié.
Após a urna que continha os restos mortais descer à sepultura, no cemitério onde jazem igualmente os restos mortais de Jonas Savimbi, líder fundador da UNITA, políticos e familiares do 'Mano Elias', como era conhecido, desvalorizaram as críticas sobre as suas intervenções.
Para o presidente do grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiyaka, “aqueles que já morreram já se reconciliaram com o seu passivo, e nós não pudemos mudar o que aconteceu em 1992”.
“Mas, pudemos aprender que não poderemos nunca desistir do diálogo, da aproximação, da harmonização das nossas diferenças, não vale a pena procurarmos desviar o foco de problemas concentrando numa única pessoa de forma nenhuma”, afirmou hoje o político, em declarações à Lusa.
Segundo Liberty Chiyaka, quando questionado sobre os alegados “discursos inflamatórios" de Salupeto Pena, “seria desonesto da parte dos angolanos se identificassem uma declaração como tendo sido a causa da situação que nós vivemos, de forma nenhuma”.
A UNITA, realçou o também deputado, “rejeita categoricamente” isso: “Devemos entender que havia um contexto, existiram desentendimentos, diferenças. Infelizmente as lideranças não foram capazes de se aproximarem e essa foi a razão que nos levou ao conflito pós eleitoral”.
“Vamos aprender não mais encetar a via da violência. Quando não conseguimos aprimorar as nossas divergências, o melhor caminho é o diálogo e aproximação”, defendeu Chiyaka.
Quem também negou as críticas imputadas a Elias Salupeto Pena, ex-membro da CPPM que negociava a paz em Luanda, após as eleições em 1992, foi o general e político da UNITA, Lukamba Paulo 'Gato'.
Para o 'General Gato', o antigo dirigente do seu partido, sepultado hoje em Lopitanga, a 30 quilómetros da sede do município do Andulo, não fazia qualquer discurso de pendor inflamatório.
“Não. Contra um discurso inflamado opõe-se um outro discurso inflamado e não canhões e tiros”, respondeu à Lusa.
O político defendeu igualmente a necessidade das lideranças dialogaram permanentemente: ”Se nós pudermos dialogar nos próximos 50 anos, vamos construir um grande país, vamos construir uma grande nação”.
“Não haja os que pensam que são os únicos detentores da razão. Neste país cada um representa alguma coisa e juntos representados tudo”, notou.
A entrega das ossadas de Elias Salupeto Pena e de Adolosi Alicerces, “nossos heróis e mártires negociadores” de 1992, “é um sinal de reconciliação”, rematou.
Esteves Isaac Pena 'General Kami', irmão de Salupeto Pena, considerou como uma propaganda que bem conhece, as críticas ao irmão falecido há 30 anos, referindo tratar-se de aproveitamentos políticos.
“Não, isso é propaganda, nós conhecemos e nem vale a pena irmos para ali, porque sabemos como os acontecimentos foram e são esses aproveitamentos políticos que a nós não interessa em se dizer que o culpado é a, b ou c”, disse.
"Se houve guerra - observou -, o culpado fomos nós e deixemos isso para atrás (…). Eu também perdi muitos irmãos e familiares, mas estou comprometido com a paz e não precisamos apontar culpados”.
“Esse momento [das cerimónias fúnebres] é muito importante, porque, apesar de serem ossadas, este gesto faz com que a família esteja reconciliada e haja paz de espírito”, realçou.
As ossadas de Adolosi Mango Alicerces, enterradas na sexta-feira no Bailundo, e de Elias Salupeto Pena foram entregues pelo Governo angolano, em novembro de 2021, [no contexto da] Comissão Interministerial para a Memória das Vítimas dos Conflitos Armados em Angola, criada pelo Presidente angolano, João Lourenço.