Em declarações à Lusa, o diretor internacional da Indra para os processos eleitorais, Eduardo Tejerina González, afirmou que não há denúncias nem documentação que sustente as acusações da UNITA, sublinhando que a empresa segue as orientação da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e o que está estipulado no caderno de encargos.
“Tudo isso é muito fiscalizado pela CNE e observadores das eleições”, como aconteceu em 2017 (último ano de eleições em Angola) “e ninguém falou de irregularidades”, adiantou González, destacando que a Indra tem repetido processos eleitorais em países que inclusivamente “mudam de cor política”.
“Se houvesse suspeita de fraude e muda a cor política do governo iam querer voltar a colaborar com a Indra se achassem que tínhamos feito algo de irregular?”, questionou.
O responsável sublinhou que a Indra está envolvida em processos eleitorais “muito transparentes, muito claros”, que não deixam dúvidas para ninguém, nem para o governo nem para a oposição.
“O que acontece agora é que é um momento de ruído político normal, mas nós não estamos no plano político, estamos no plano técnico, estamos a fazer uma implementação técnica do processo eleitoral”, prosseguiu.
Eduardo González afirmou que se a Indra estivesse por trás de uma fraude eleitoral em 2017, os partidos da oposição teriam levado as denúncias, sustentadas com provas, ao tribunal: “Essas provas são simples, eles [representantes dos partidos] estão nas assembleias, eles têm cópia dos boletins e das atas de síntese e podem fiscalizar esses dados, eles fizeram esse trabalho, mas não encontraram irregularidade”, vincou.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA),principal partido da oposição, tem contestado a escolha da Indra, responsável pelas soluções tecnológicas das eleições gerais de 2008, 2012 e 2017, nas eleições previstas para agosto deste ano e já anunciou que iria impugnar o concurso, acusando a empresa tecnológica espanhola de práticas fraudulentas.
Na segunda-feira, depois de a Indra dizer que os representantes da UNITA tinham participado na escolha da empresa, pois estavam também representados na comissão de avaliação, o partido contrapôs que desconhecia como funcionava esse órgão, afirmando que o facto de a empresa saber como foi escolhida é "grave" e revela "conluio" com o regime.
O responsável da Indra disse à Lusa que a comissão de avaliação integra um conjunto de representantes escolhidos pela CNE (do MPLA, partido do poder, e de partidos da oposição) e que todos os concorrentes que apresentaram propostas tinham direito a participar na sessão de avaliação.
Neste caso, foram apenas as empresas que entregaram propostas – a Indra e a Smartmatic, que viu a proposta rejeitada por violação das regras do concurso, segundo a CNE.
“Não éramos parte da comissão [de avaliação] evidentemente, mas estávamos na sala. Os concorrentes têm de estar na sala para esclarecer dúvidas ou qualquer questão da comissão de avaliação”, disse à Lusa o diretor da Indra, acrescentando que foi entregue uma cópia da ata dessa sessão aos concorrentes.
“O representante da UNITA faz parte da CNE e da comissão de avaliação, essa pessoa estava lá e assinou a ata dessa primeira sessão de validação, validando que estávamos aptos para continuar no processo, enquanto o outro concorrente foi desqualificado por uma irregularidade”, salientou Eduardo González.
O responsável assinalou que a Indra já participou em 450 atos eleitorais em 40 países, fornecendo não só assistência técnica eleitoral como está a fazer em Angola, mas também fornecendo materiais, consultoria eleitoral e assistência a missões de observação eleitoral.
A Indra presta apoio técnico, fornecendo, por exemplo, todo o material eleitoral, de boletins de voto, a tinta indelével, fita adesiva, ou ‘banners’ para as assembleias de voto, mas não faz a contagem dos votos.
Eduardo González descartou também que a Indra tenha sido alvo de uma sanção administrativa que inviabilizaria a sua candidatura conforme disse a UNITA, já que o que estava em causa era um processo de regularização fiscal relativamente a faturas que o fisco espanhol considerou não estarem devidamente justificadas.
"Não foi uma sanção, foi uma regularização fiscal, se assim fosse estaríamos também impedidos de participar em concursos em Espanha e isso não aconteceu", assinalou o responsável.