“Sim, fico descansado”, respondeu à Lusa sobre se se sentia descansado com o ‘day after’ da consulta eleitoral.
“Acho que Angola já tem uma maturidade. No dia depois das eleições, a situação vai continuar calma. Há sempre, não é de esconder o descontentamento (de quem) não venceu (os resultados) não corresponderam às expectativas, mas a população angolana, no geral, está madura”, disse.
Todavia, reconheceu que não deixará de haver contestação: “Agora uma coisa é certa. Os grupos de pressão, ativistas, digamos assim, eles têm essa facilidade toda tendo em conta o núcleo de contactos ou rede de contactos que eles têm e fazer uma manifestação. Isso é normal. Até isso é sinal do crescimento da democracia. Essa é a minha leitura, não só como um cidadão. É mais como observador da sociedade, onde estou inserido”.
Patrício Batsikama apresenta no domingo, em Lisboa, o seu livro “Despoder em Angola”, uma obra que, destacou, pretende “celebrar os 20 anos de paz em Angola”.
“Pretendo abordar quatro aspetos. O primeiro é a ideia de conviver com a diferença; o segundo é a construção da democracia dentro dos valores, não só os valores que a democracia traz, mas sobretudo os nossos valores tradicionais e fundamentais; o terceiro é para os angolanos nunca mais voltarem a optar pela violência para solucionar os seus problemas; e o ultimo, este trabalho foi construído em duas fases, em que a primeira foi as minhas aulas, seminário, doutoramento e mestrado” e (a segunda) o contexto histórico do exercício do poder.
Patrício Batsikama pretende apresentar a sua leitura pessoal sobre o exercício do poder no passado e a atualidade.
“Eu trago essa leitura na base daquilo que acontecia no passado. É para repensar a nossa sociedade, fomentar o diálogo na diferença e construir a sociedade dentro dos valores longe da violência. Esse é o objetivo de lançamento do livro”, explicou.
Docente do Instituto Superior Politécnico Tocoísta (ISPT), onde também exerce a função de coordenador do Centro de Estudo e Investigação Científica Aplicada (CEICA), Patrício Batsikama procura definir no livro “o que é o poder, o que é o despoder”.
“Nós temos Angola destruída pela guerra durante tantos anos e é uma chamada aos angolanos, para nunca mais olharem a guerra como uma opção. Não, nunca mais olharem a violência como opção na construção das nações”, vincou.
Relativamente às eleições de agosto próximo, Patrício Batsikama socorreu-se de um trabalho de pesquisa de campo que mantém desde 2019 e que foi atualizado em fevereiro.
A investigação envolveu 12 províncias de Angola (Luanda, Uíje, Zaire, Malanje, Moxico, Huambo, Bié, Benguela, Cunene, Huíla, Cuanza Sul e Bengo) e permite, interpretando os dados estatísticos a partir de 19.808 entrevistas, dizer que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, deverá obter 58,79%, o somatório da oposição, em que se inclui a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), 30,18% e uma abstenção de 10,97%.
O tipo de amostra realizada, ‘cluster’, nunca chega a 100%, explicou à Lusa Patrício Batsikama.
“Nas conversas, durante as duas últimas semanas de fevereiro de 2022, notou-se o desespero social, saturação política e secularização do sagrado. Os inquéritos são curiosos: Como é possível que uma saturação política não tenha privilegiado a vantagem da oposição? Qual seria a razão de o desespero social não se refletir, pelo menos em termos estatísticos, ao insucesso do MPLA”, questionou-se, nas conclusões da investigação.
Segundo as conclusões da investigação, a que a agência Lusa teve acesso, 59,2% dos inquiridos reclamam mais emprego, criticam a exclusão de oportunidades e defendem o aliviar dos custos da cesta básica.
“O povo deseja emprego a longo termo como garantia da esperança social”, sintetizou-se no trabalho em que se considerou também que “democratizar Angola é uma retórica da oposição que está aqui absorvida pela massa urbana, periurbana e periférica”.