Eleições 2022: Especialista antevê eleições renhidas e não acredita no domínio do MPLA

Um analista angolano disse hoje não acreditar que o MPLA, partido no poder, mantenha nas eleições de 24 de Agosto a hegemonia de 2017, acreditando que a disputa será renhida e que partidos caloiros terão dificuldades de eleger deputados.

Augusto Santana, analista de assuntos eleitorais, afirma que em eleições livres e democráticas os resultados são imprevisíveis e fala em tendências de voto para as eleições gerais deste mês “com sentido de manutenção ou mesmo retrocesso em relação aos resultados de 2017”.

“Embora não acredite que a tendência do 5-0 para o MPLA prevaleça, acredito que mesmo nas províncias que têm sido bastiões do MPLA, aí o MPLA possa partilhar lugar com a UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola], maior partido na oposição, e ou a CASA-CE”, disse Augusto Santana à Lusa.

Eleitores angolanos apostaram 100% no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), em cinco círculos provinciais nas eleições de 2017, a UNITA elegeu dois deputados em Luanda, maior praça eleitoral do país, e a Convergência Ampla de Salvação de Angola–Coligação Eleitoral (CASA-CE) ganhou espaço em três círculos províncias, particularmente em Cabinda.

O MPLA venceu as anteriores eleições gerais angolanas com um total nacional de 4,1 milhões de votos (61,8%) e elegeu 150 deputados, segundo escrutínio definitivo de 06 de setembro de 2017 divulgado pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE).

A Lei Orgânica das Eleições Gerais estabelece que cada uma das 18 províncias angolanas compreende um círculo provincial, que elege cinco deputados cada, e um círculo nacional que elege 130 deputados.

Augusto Santana descartou a manutenção dos resultados das eleições de há cinco anos no sufrágio de 24 de agosto referindo que “há um grande movimento da oposição, sobretudo da UNITA”.

“Acredito que Luanda vai ser um centro muito disputado, não vai ser fácil para o MPLA e a UNITA, acredito que um 3-2 vai ser o resultado, para quem não posso afirmar agora, mas Luanda vai ser disputada”, frisou.

Na estatística nacional de votos das eleições de 2017, em que participaram sete milhões de eleitores e apenas 6,8 milhões de votos foram válidos, a UNITA foi o segundo partido mais votado com 1,8 milhões de votos (26,68%), elegendo 51 deputados.

A CASA-CE, liderada na altura por Abel Chivukuvuku, somou 643,9 mil votos (9,45%) e quedou-se na terceira posição, com 16 deputados, duplicando os resultados de 2012.

Nas posições imediatas ficaram o Partido de Renovação Social (PRS), com 92,2 mil votos (1,35%), que elegeu dois deputados, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com 63,6 mil votos (0,93 %), com um deputado, e a Aliança Patriótica Nacional (APN) com 34,9 mil votos (0,51%) e sem qualquer assento na Assembleia Nacional.

Em 2017, o MPLA elegeu dois deputados em Cabinda e a UNITA elegeu apenas um.

A CASA-CE, então liderada por Abel Chivukuvuku, agora o segundo da lista da UNITA para as eleições de 24 de agosto, também elegeu um deputado no círculo provincial do Namibe, onde os restantes foram o MPLA, e no Zaire, onde a UNITA também elegeu um deputado e os “camaradas” três deputados.

“Espero que a CASA-CE mantenha essa passada em Cabinda, possivelmente terá de disputar alguns lugares com a própria UNITA, e vai também depender o que os programas têm em termos de soluções para Cabinda”, realçou Augusto Santana.

Para o especialista, a disputa pelo voto em Cabinda “vai ser muito acirrada, este ano, e quem ganhar vai ter muito a ver com as soluções do chamado caso Cabinda”, mas acredita “numa disputa equilibrada entre a UNITA e o MPLA”.

Augusto Santana olha com bastante esperança para a FNLA, agora liderada por Nimi-a-Simbi, sobretudo pela reunificação do partido “que funcionou e está a funcionar como um tónico no sentido da unidade e da promoção das mudanças de que precisa”.

“As alas prejudicaram o partido e a mobilização de eleitores, mas dessa vez conseguiram unir e vê-se que há uma animação diferente e acredito que não vá desaparecer porque há ainda uma geração muito jovem a surgir”, assinalou.

O especialista considerou também que o PRS “está a perder algum fulgor” e que a APN “trabalhou muito nos últimos cinco anos” e “parecem mais maduros e sabem o que querem, parece terem ideias muito concretas”.

Na disputa ao voto este ano em Angola entraram também dois novos contendores, o Partido Humanista de Angola (PHA) e o Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango).

“Acredito que vai ser muito mais difícil para estes dois, porque foram criados e legalizados muito próximo das eleições e estão a fazer ao mesmo tempo criação de estruturas”, sustentou.

“Vai ser muito difícil para esses dois partidos [PHA e P-Njango] mobilizar gente suficiente, mas vamos ver, os resultados só saberemos depois, mas acredito que estes dois terão mais dificuldades para eleger deputados”, rematou Augusto Santana.