“Tudo isso é falácia, a UNITA está a se debater com dificuldades deste processo (eleitoral), recorreu aos cidadãos, apontou contas bancárias que foram tornadas públicas, todas as contribuições que estamos a receber dos cidadãos estão a cair nesta conta”, afirmou o secretário nacional para os Assuntos Eleitorais da União Nacional para Independência Total de Angola, Faustino Mumbika.
Questionado se as cidadãs Welwitchia “Tchizé” dos Santos e Isabel dos Santos, filhas do ex-presidente angolano, não deram qualquer contribuição à UNITA o político respondeu: ”Se deram, as contas registaram”.
“Se registaram, obviamente, o presidente do MPLA não estaria a dizer, até iria citar valores, sabem que não só a UNITA tem toda a sua gestão arquitetada no sistema bancário, como também inclusive a UNITA tem contas congeladas até hoje”, disse.
Mumbika referiu que a lei obriga a todos os concorrentes ao ‘compliance’ (transparência) e, neste momento, explicou, “se a UNITA tivesse recebido um financiamento qualquer o presidente do MPLA não estaria a falar, mas estariam os tribunais a agir”.
O Presidente de República de Angola e candidato do Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder, João Lourenço, reafirmou, na quarta-feira, o combate à corrupção e acusou a UNITA, principal partido da oposição, de pactuar com corruptos.
“Angola está efetivamente a combater a corrupção”, disse João Lourenço num comício em Malanje, considerando “irónico” que alguns dos seus concorrentes digam que o MPLA "não está a fazer nada".
“O que é irónico é que esses que defendem esse ponto de vista fizeram um pacto com os corruptos, estão a comer no prato dos corruptos, estão a ser financiados pelos dinheiros saídos de Angola pela porta da corrupção, esses são os seus reais financiadores”, sublinhou Lourenço, insinuando que a candidatura do presidente da UNITA estará a ser financiada por pessoas visadas pela justiça angolana.
“Não temos que nos admirar em termos de alianças, essa oposição já teve alianças piores do que estas, quem se aliou ao ‘apartheid’ não admira que se alie aqueles que esvaziaram os cofres do Estado e levaram esses recursos para outras economias, quem se alia ao ‘apartheid’ [a África do Sul apoiou a UNITA na guerra civil, enquanto o MPLA era apoiado pela União Soviética e Cuba] facilmente se alia aos corruptos que fugiram de Angola acusados da prática de corrupção”, apontou.
O Governo angolano tem sido frequentemente acusado de levar a cabo uma justiça seletiva visando familiares ou colaboradores próximos do antigo presidente José Eduardo dos Santos, que morreu em 08 de julho em Barcelona e relativamente ao qual se mantém uma disputa judicial quanto às exéquias entre alguns dos seus filhos e o regime angolano.
Tchizé dos Santos, uma das filhas, militante e ex-deputada do MPLA tem demonstrando publicamente o seu apoio à candidatura de Adalberto da Costa Júnior, mas nenhum dos restantes filhos se pronunciou sobre campanhas partidárias, em particular Isabel dos Santos, que vive fora de Angola há vários anos e é visada em vários processos cíveis e criminais.
Faustino Mumbika, que falava em conferência de imprensa sobre o processo eleitoral, desvalorizou as acusações de Lourenço: “Agora, se olharmos a realidade consideramos que esta é aquela jogada de escondidinhas em que a cauda está de fora”.
“O problema da corrupção no país sabemos todos que não é um problema do ‘marimbondo 1’ [alusão à vespas associada aos corruptos em Angola] ou do ‘marimbondo 2’, é um problema sistémico”, frisou.
Para o político da UNITA, o debate sobre a corrupção em Angola “está a ser falseado, desde o primeiro momento”, afirmando que o que se está “a viver não é um problema de corrupção, é problema de peculato, é roubo puro e é sistemático”.
“Isto o que hoje se chama de ‘marimbondos’ ou ‘caranguejos’ é produto que o sistema do MPLA adotou e hoje mesmo estamos a assistir à campanha multimilionária que o candidato do MPLA está a fazer que não é possível fazê-lo com os recursos que a CNE [Comissão Nacional Eleitoral] atribuiu aos partidos políticos”, apontou.
“Fica claro que é com recursos do Estado e alguns deles de forma pública, usa os aviões do Estado, os transportes públicos e outros que o MPLA está a usar para esta campanha”, acusou.
Para Mumbika, a acusação “é apenas uma forma de desviar a atenção, porque o presidente do MPLA tem consciência que de facto o país tem sido vítima de um escandaloso roubo arquitetado por um sistema de que ele faz parte”.
As eleições gerais angolanas, quinto escrutínio da história política do país, estão marcadas para 24 de agosto e concorrem oito formações políticas, em campanha eleitoral desde 24 de julho.