Foram premiados os ativistas Adolfo Campos, Gilson da Silva Moreira "Tanaice Neutro", Hermenegildo André "Gildo das Ruas" e Abraão Pedro Santos "Pensador", a cumprir prisão desde setembro de 2023, Laurinda Gouveia, do caso conhecido por 15+2, em 2016, e o Observatório de Coesão Social e Justiça de Angola.
Os primeiros quatro ativistas foram detidos, julgados e condenados a dois anos e cinco meses de prisão efetiva, pelos crimes de desobediência e resistência, na sequência de uma manifestação em solidariedade com os mototaxistas, devido a restrições de circulação nas principais vias de Luanda, impostas pelas autoridades angolanas.
A cerimónia contou com a participação dos familiares dos premiados, que, em seu lugar, receberam e agradeceram as estatuetas, dando os seus testemunhos sobre a situação que têm passado.
Em declarações à agência Lusa, o diretor executivo da FoA, Florindo Chivucute, disse que as homenagens começaram em 2019, mas devido à pandemia da covid-19 foram interrompidas. Contudo, a lista de ativistas a serem homenageados "é longa" e as atenções foram agora para os jovens detidos.
"O objetivo foi de homenagear e reconhecer o trabalho, mas também de começar a conversa e alertar o executivo angolano sobre a insatisfação da sociedade civil em relação a esse tipo de comportamento, que não é bom para um clima de paz, de tranquilidade, que nós pretendemos", referiu.
Florindo Chivucute destacou também o papel da ativista Laurinda Gouveia, uma das mulheres "que muito tem feito em prol da sociedade civil", no trabalho de consciencialização do núcleo feminino, para a sua inserção no sistema político.
"É importante, nós temos que ter também meninas a participarem no sistema político para termos um sistema inclusivo. Há pouco tempo ela foi detida com o filho e o marido por simplesmente participarem de uma manifestação pacífica", realçou.
O diretor executivo da FoA defendeu a necessidade de "incentivar as pessoas e organizações a participarem no sistema democrático, porque só assim é que se faz a democracia".
"A democracia não se pode fazer apenas com uma voz, faz-se com várias vozes e num clima de tolerância, onde aprendemos a ouvir opiniões diferentes e a conviver com essas diferenças filosóficas, independentemente dos nossos princípios ou da nossa cor partidária", observou.
O responsável considerou que o estado democrático de direito e os direitos humanos em Angola atravessam um momento, "infelizmente, muito débil".
"Devo adiantar mesmo ou ter a audácia de dizer que estamos a regredir", referiu Florindo Chivucute, lembrando a esperança de "mais abertura de espaço cívico e consolidação do processo democrático", quando o Presidente angolano, João Lourenço, assumiu o poder em 2017.
"Passados alguns anos o que estamos a constatar é o contrário. Eu me recordo que quando o secretário de Estado [norte-americano, Antony] Blinken esteve cá, ele ainda falou sobre isso. É importante o executivo angolano dar mais espaço à sociedade civil. Infelizmente, o quadro é débil, estamos a regredir e temos que virar esse quadro. Isso é possível, não é apenas trabalho do executivo, mas de cada um de nós", vincou.