A parceria é lançada na quinta-feira na província do Bengo pela associação Química Verde Lab e pela embaixada de França em Luanda, que patrocinou o projeto “Minha Água, Minha Vida” num país onde a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 50% da população não tenha acesso a uma fonte melhorada de água.
Ao abrigo desde projeto, em curso desde 2016, a organização não-governamental (ONG) quer melhorar a qualidade da água e a higiene em comunidades rurais carenciadas, que muitas vezes recorrem a água de poços, águas paradas ou lagoas para o seu abastecimento, explicou à Lusa António Adelino Kilala, gestor de projeto na Química Verde Lab.
Para tal, distribui a famílias, escolas e centros de saúde um filtro de água a que chamou biofiltro, que permite melhorar a qualidade da água sem recurso a químicos, eletricidade ou outras tecnologias.
Construído em betão por cerca de 20 mil kwanzas (46 euros), o biofiltro utiliza camadas de sílica, ou seja “areia extremamente fina", que é lavada e desinfetada e através da qual passa a água a ser filtrada.
"O tratamento da água é como se fosse um processo natural. À medida que a água vai atravessando a camada da areia [por força da gravidade], os contaminantes, as impurezas, são retidos acima por terem uma granulometria maior do que os espaçamentos deixados pelos grãos da areia”, disse Kilala.
O processo “remove a cor, o cheiro e o sabor da água, assim como remove também a carga microbiológica”, nomeadamente agentes patogénicos suscetíveis de causar doença.
Como não precisa de eletricidade para funcionar e como a manutenção pode ser feita sem recurso a técnicos especializados, o biofiltro é adequado a meios rurais distantes, onde esses recursos muitas vezes não existem, explicou o responsável.
Até hoje, a ONG já distribuiu mais de 2.000 biofiltros a outras tantas famílias, além de duas centenas de aparelhos em escolas e centros médicos nas províncias de Luanda, Bengo, Malanje, Kwanza Sul, Kwanza Norte e Benguela.
Além dos filtros, o projeto tem outros três pilares, incluindo formar as populações sobre higiene e saneamento básico, ensiná-las a produzir sabão para melhorar a higiene e garantir uma alternativa de subsistência através da comercialização do sabão que produzem, e educação sobre gestão de higiene menstrual para facilitar a integração das meninas nas escolas.
Com a parceria agora anunciada com a embaixada de França, que doou 3,65 milhões de kwanzas (8.500 euros), a associação espera sobretudo aumentar o impacto e a visibilidade do projeto, com o objetivo de estar em todas as províncias angolanas no prazo de três anos, disse o responsável.
"[Queremos] fazer uma cobertura total a nível da Angola de forma a que ninguém fique para trás quando o assunto for acesso a uma água de qualidade", explicou.
Até porque da parte das autoridades angolanas o apoio “ainda é meio tímido”.
Após alguma insistência da Química Verde, as autoridades locais autorizam a intervenção da ONG, mas Kilala defende que podiam fazer mais: “acesso às comunidades, acesso à informação, envolvência tanto monetária como de recursos humanos”, exemplificou.