Eleições: Cidadãos com “receios de instabilidade” pós-eleitoral mais do duplicam procura de bens alimentares

O receio de instabilidade pós-eleitoral em Angola mais que duplicou a procura nos estabelecimentos comerciais em Luanda, com enchentes de populares ávidos e, garantir alimentos no dia que antecede as quintas eleições angolanas.

Frescos, arroz, óleo e massa alimentar são os produtos com mais saída nos diversos armazéns e estabelecimentos comerciais da capital angolana, onde os gestores das superfícies garantem responder à procura dos consumidores.

A considerável presença de pessoas, entre compradores e vendedores, no mercado das Pedrinhas, no bairro da Terra Nova, distrito urbano do Rangel, desperta a atenção de quem por ali circula, num intenso movimento também de viaturas que abastecem os armazéns.

Comerciantes reconhecem ser uma enchente anormal, em comparação com os dias anteriores, e associam a procura por bens da cesta básica às eleições de quarta-feira, devido a receios de instabilidade após o sufrágio.

Natália Francisco, gerente de um armazém daquela circunscrição, disse à Lusa que a procura de produtos no seu estabelecimento aumentou de forma considerável, sobretudo hoje, “porque as pessoas estão meio preocupadas” com o pós-eleições.

“Acredito que se deve àquilo que se está a dizer sobre as eleições. As pessoas estão meio preocupadas porque não sabem o que vai acontecer depois das eleições, então estão a querer aumentar o 'stock' das suas casas”, contou.

Com um elevado número de faturas em mãos e sempre atenta aos movimentos dos clientes presentes no armazém, esta gerente deu nota que o arroz, a fubá, o óleo e a massa alimentar lideram a procura dos clientes.

“Sim, temos [quantidade suficiente para responder à procura]. O arroz, a fubá, o óleo, a massa alimentar têm mais saída e em grandes quantidades, as pessoas estão a querer mesmo ter um 'stock' considerável em casa”, acrescentou.

Entre dezenas de clientes naquele armazém, Valdick Oliveira acorreu à zona comercial, adjacente ao Mercado dos Congoleses, para “fazer um bocadinho de compras” porque “a reserva de casa está baixa”.

O funcionário público apontou, por outro lado, a necessidade de ter o essencial em casa por estar igualmente cético sobre o que poderá surgir depois das eleições de quarta-feira.

“Hoje vim mesmo aumentar o 'stock' e também por causa do amanhã, não se sabe o que vai acontecer amanhã [quarta-feira] por isso vim aumentar a reserva de casa”, frisou.

Valdick Oliveira defendeu igualmente que os angolanos devem aderir às urnas, considerando, no entanto, como legítima a preocupação generalizada sobre instabilidade pós-eleitoral.

“No meu ponto de vista, [o receio] é legítimo, porque se não sabe depois do evento que vai acontecer amanhã [quarta-feira] o que vem a seguir, então há necessidade de aumentar o 'stock' em casa” insistiu.

Naquela zona comercial, o intenso movimento de pessoas com produtos, transportados sobre a cabeça e outros em carros de mão, condiciona a circulação dos transeuntes, no mesmo local onde as vendedoras também comercializam produtos a retalho.

Numa outra superfície comercial, da mesma zona, a gerente Celestina Fernando falou em procura “anormal” de produtos, num dia em que considerou como muito agitado, devido às eleições.

“As pessoas estão preocupadas em fazer compras para prevenir já o que vai acontecer e estão preocupadas com isso. A procura multiplicou, sim”, disse.

A gerente lamentou, por outro lado, o aumento dos preços dos produtos, em relação aos meses anteriores às eleições, referindo que o preço de saco de arroz de 25 quilogramas subiu para 9.000 kwanzas (20 euros) contra os anteriores 7.000 kwanzas (16 euros).

O aumento dos preços dos produtos da cesta básica também foi constatado por Mariana de Jesus Singui, que acorreu igualmente a um dos armazéns daquele mercado para comprar cinco quilos de arroz por 2.500 kwanzas (5,7 euros).

Para a jovem desempregada, o aumento dos preços veio dificultar ainda mais a vida dos angolanos, que vivem o período que antecede as eleições gerais com “receios de guerra”.

“Estão a dizer que vão fechar os armazéns, pode ter uma guerra ou que as pessoas estão a vir comprar qualquer coisa, esse receio não é normal”, salientou.

“Mas as coisas não estão mesmo boas nesse país, o [quilograma de] feijão era 600 kwanzas [1,3 euros], mas agora está a 900 kwanzas [2 euros], as coisas estão mesmo mal. João Lourenço [atual Presidente angolano e candidato do MPLA, no poder] veio estragar o nosso país, não está mesmo bom”, atirou.

A grande movimentação de pessoas nas superfícies comerciais e mercados informais é registada ainda em vários pontos da capital angolana.

Angola vive hoje o dia de reflexão, visando as eleições desta quarta-feira, 24 de agosto, após quase um mês de campanha eleitoral das oito forças concorrentes ao sufrágio, sete partidos e uma coligação de partidos.