Adalberto Costa Júnior, que participou hoje no 1.º Congresso da Nação: “Pensar Angola, por um Projeto Comum de Consenso”, iniciativa da sociedade civil, referiu que o partido no poder, Movimento Popular de Libertação Nacional (MPLA), “pensa que o adversário é um inimigo” e “faz da competição política um elemento de conflito levado ao extremo”.
“E creio que os angolanos hoje, todos eles, inclusive no seio do próprio MPLA estão surpreendidos pelo nível baixo, no âmbito ético, com a falta de respeito à lei”, disse Adalberto Costa Júnior em declarações à agência Lusa.
O dirigente do maior partido da oposição frisou que o país tem presente “observadores externos, as embaixadas”, que têm acompanhado “este espetáculo negativo”, lembrando que começaram já a sair relatórios “que não abonam nada a favor da imagem do Governo angolano”.
“Ainda esta semana saiu um sobre os direitos humanos, com violações das liberdades, denunciados a nível internacional, e quando não se está habituado a um posicionamento democrático, não se aceita, não se está preparado”, sublinhou.
Instado a comentar recentes acusações do líder do MPLA, João Lourenço, de que a oposição leva a cabo uma tarefa de descredibilização a nível nacional e internacional do processo eleitoral angolano, Adalberto Costa Júnior preferiu não comentar sobre “a maturidade” do seu adversário.
“Porque eu já percebi há algum tempo que também devo fazer o melhor que eu puder para desanuviar o ambiente político, e com a audiência que houve, em março, creio que se estabeleceu uma ponte que, a avaliar pelas palavras do Presidente da República, no fim da audiência, e as palavras foram: daqui para frente temos via aberta de comunicação política e vamos usar esta via aberta, eu vou fazer por manter estas questões, em tudo, creio que me têm visto calmo, bastante calmo”, vincou.
Segundo Adalberto Costa Júnior, o cidadão angolano, “com a maturidade que tem hoje”, já percebeu que se está presente um processo, “infelizmente, pouco democrático, onde o respeito pelas leis não é o que tem pautado, pelo menos nos últimos tempos, no âmbito daquilo que é a prática do Governo”.
O líder da UNITA disse que tem definidas linhas vermelhas, sendo uma delas a publicação das listas provisórias do registo eleitoral, que “por alguma razão o Governo insiste em não cumprir com a lei”, que recentemente foi revista “e votada por uma maioria do próprio MPLA”.
“Nós votamos contra e foram eles que aprovaram estas leis e hoje ao recusarem a publicação acabam por dar fundamento às imensas desconfianças que se dirigem ao facto de que alguma coisa se passa nesta matéria”, observou.
Adalberto Costa Júnior reiterou as denúncias e críticas sobre a tomada das praças públicas pelo partido no poder, o quadro de “censura extrema”, e do boicote pelos órgãos de comunicação social públicos no acesso aos partidos da oposição.
“Penso que estamos numa circunstância que o espaço crítico dentro do MPLA desapareceu, o espaço crítico dentro do Governo também desapareceu, mas eu sou dos que tem sempre um posicionamento positivo”, destacou.
“Eu espero que se retome o diálogo, que se tenha sobre a comunicação social pública um alto lá, com muita urgência, o escândalo é exagerado. Hoje não é a UNITA, não são apenas os partidos políticos, é a sociedade no seu todo”, destacou.
Para Adalberto Costa Júnior, o MPLA está a correr o risco de ficar isolado “e de amanhã os artificialismos dos seus comícios, porque é preciso não ter muito medo de dizer as verdades, acabarem por verem-se incapazes de poder transformar aqui em legitimidade”.
“Porque aquilo que nós já percebemos há muito tempo é: vamos forçar os comícios artificiais, para depois dizer que formatamos resultados extraordinários, isto já não pega hoje, então fica o nosso desafio, abracemos a democracia e olhemos para as eleições como uma circunstância normal, cíclica, de busca de legitimidade efetiva”, comentou.
“O poder não é um fim em si próprio, criemos mais criatividade, olhemos para tudo isto no exercício da política com mais naturalidade, dá a ideia de que esta liderança do MPLA não está capaz de o fazer”, acrescentou.
O político disse esperar manter um encontro com o Presidente da República ainda antes das eleições, previstas para agosto, a ter em conta que a anterior reunião representou “a expressão de um sentimento verdadeiro”.
“Nós estamos obrigados à continuidade do diálogo, os desafios são grandes, e não há mudanças extraordinárias, não há o limite do abuso no que diz respeito à violação no âmbito da comunicação social, o tratamento igual não existe, e o Governo deve tomar contacto com a clara realidade”, apontou.
“Agora, querem-nos dizer, vamos violar e fiquem quietos, aceitem porque esta é a nossa vontade de maioria, vamos transformar esta maioria ‘ad eternu’, é um pouco deste exercício que estão a fazer connosco? Estão iludidos, estão muito enganados, de maneira nenhuma, nós não vamos caminhar por aí, eu penso que a mudança é possível mesmo”, garantiu Adalberto Costa Júnior.