“A fraude está preparada e está declarada e só quem não quer ver é que não vê, porque todos os atos de contratação foram abusivos, violaram a Lei da Contratação Pública, a Indra, a empresa do “Kopelipa” (ex-chefe da Casa Militar do Presidente da República na era José Eduardo dos Santos) para fazer transporte de urnas”, disse hoje em declarações à Lusa.
Para Luaty Beirão, das “ações fraudulentas” consta também a empresa Sinfic, “que geriu a base de dados dos eleitores registados na diáspora, sem que as embaixadas tivessem acesso a esses dados dos cidadãos registados”.
“Tudo o que está a ser feito, e essa agora das listas que não foram publicadas das pessoas registadas, são indícios mais do que evidentes de uma intenção de controlar a forma como os resultados vão ser apresentados”, afirmou.
Segundo o ativista, a construção da sede da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) angolana, no perímetro do palácio presidencial e a mudança da lei eleitoral fazem parte do “pacote fraudulento” das próximas eleições angolanas.
“Tudo foi feito, e só quem não quer ver e que não vê, para mais uma vez nós sermos alvo de resultados cozinhados previamente e apresentados que nós teremos de engolir como resultados finais”, criticou.
“Porque será a versão oficial desses resultados, tudo, como sociedade civil, que nós tentamos fazer é providenciar informação bastante para mostrar que existe esta manipulação e para dar uma ideia de quais seriam os resultados caso as eleições fossem transparentes”, sustentou.
O ativista criticou também os concursos públicos promovidos pela CNE, considerando-os “uma grande aldrabice”, e o “silêncio” do presidente do órgão eleitoral em não responder à sua solicitação de credenciamento para observação eleitoral em mais de 15 dias.
“Já escrevemos para a CNE e não obtivemos resposta, a lei obriga o presidente da CNE a responder em 15 dias, nunca respondeu, então a lei é para quem afinal? Quem é que tem de cumprir”, questionou.
Luaty Beirão reiterou que “a fraude está feita e vai ser consumada no dia 24 de agosto e a seguir vai ser selada com o anúncio dos resultados que eles querem dar”.
A CNE anunciou na sexta-feira que vai formular convites para observação eleitoral a nove organizações internacionais, nomeadamente a União Europeia (UE), União Africana, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e Centro Carter dos EUA.
Convites para observação das eleições gerais de Angola serão formulados também à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), Fórum das Comissões Eleitorais dos Países da SADC e Conferência das Jurisdições Africanas.
No entender do conhecido ativista do processo 15+2, os convites feitos à UE e o Centro Carter dos Estados Unidos da América (EUA) “são cínicos” porque, justificou, estas entidades “demonstraram vontade de participar, mas solicitaram convite há mais tempo porque precisavam de se organizar”.
“Precisam de se organizar, preparar equipas e desbloquear fundos. Isso não se faz a 60 dias das eleições. Elas (organizações internacionais) explicaram longamente as razões desse convite antecipado. O Instituto Carter este ano nem se deu ao trabalho por causa das voltas que lhes deram em 2017, quando demonstraram interesse”, rematou o ativista.
As eleições gerais em Angola, o quinto sufrágio na história política do país, estão convocadas para 24 de agosto próximo.