“É boa, durante este tempo tivemos vários encontros e quase sempre, quem se deslocou ao encontro com José Eduardo dos Santos fui eu. Eu é que sou o chefe de Estado e fui eu que me desloquei, isso é um sinal mais do que evidente de que as relações são boas”, afirmou João Lourenço, questionado hoje sobre as relações com a família do seu antecessor numa entrevista da RTP África.
“(Mas) uma coisa são as minhas relações entre ele e eu, outra coisa é a luta contra a corrupção, que não é contra pessoas, não é contra famílias, é contra quem estiver envolvido nesses casos, aí a justiça angolana andará atras dessas pessoas ou famílias”, complementou.
Desde que subiu ao poder, em 2017, substituindo no cargo José Eduardo dos Santos que, durante 38 anos governou os destinos de Angola, João Lourenço elegeu a luta contra a principal bandeira, tendo surgido desde essa altura diversos processos judiciais contra familiares do ex-presidente ou seus antigos colaboradores, que alguns dizem tratar-se de uma justiça seletiva.
João Lourenço garantiu, na entrevista, que a justiça angolana está a agir a todos os níveis: “não esta só à caça de ministros e ex-ministros, diretores e ex-diretores, a luta contra a corrupção está a cobrir todos os níveis da base até ao topo e quem está a fazer isso são os tribunais”.
Sobre o processo de recuperação de ativos e repatriamento de capitais a partir do exterior, admitiu que os números estão ainda longe do que seria ideal e que “é quase impossível recuperar a 100%” o que foi desviado do erário público, mas, sublinhou, vai “continuar a trabalhar nesses sentido”.
Negou que o sistema judiciário esteja em falência, salientando que fez. em quatro ou cinco anos. o que o país não fez em mais de quarenta anos de independência: “Nunca houve tanta liberdade dada ao sistema judicial para fazer justiça”.
Sobre a utilização de meios postos à disposição da presidência da Republica para fazer campanha enquanto presidente do MPLA, que se candidata a um segundo mandato nas eleições gerais de 24 de agosto, rebateu as criticas, invocando exemplos de outras democracias, como os Estados Unidos, onde esta prática é habitual.
“Eu sou Presidente da República, utilizo viaturas, utilizo um avião que me leva a todo o sitio, acha que quando saio em atividade partidária devia deixar de usar esses carros, esses jipes, o avião? Eu acho que não, e não tenho de esconder essa forma de pensar”, respondeu João Lourenço à jornalista da RTP que questionou o chefe de Estado sobre a utilização de meios na sua dupla qualidade de líder do governo e líder partidário.
João Lourenço apontou ainda o exemplo dos Estados Unidos, país onde o Presidente usa o Air Force One (avião presidencial) durante a campanha eleitoral.
Rejeitou também que não sejam dadas oportunidades e visibilidade nos meios de comunicação públicos ao líder do principal partido da oposição, a UNITA (cujo nome não referiu), afirmando que “o líder não fala por que não quer” e dizendo que se a televisão não tem a iniciativa de o convidar, deve ser ele a fazer esse contacto.