"O legado de violações dos direitos humanos durante a era de [José Eduardo]dos Santos ainda hoje assombra os angolanos, cinco anos após a sua saída do poder", disse hoje HRW num comunicado em reação à morte do ex-chefe de Estado angolano.
A organização de defesa dos direitos humanos considerou José Eduardo dos Santos uma "figura controversa" e admitiu que "fará falta a muitos angolanos", que o consideram "o arquiteto das negociações de paz" que puseram fim a 27 anos de guerra civil.
"Mas para as vítimas de violações dos direitos humanos durante os seus 38 anos de governo", prosseguiu a HRW, "foi um líder implacável que não hesitou em utilizar as forças de segurança e o sistema judicial para intimidar os seus críticos".
Como exemplos, a ONG apontou a perseguição a ativistas como o jornalista Rafael Marques, que levou a cabo "investigações sensíveis" sobre as áreas diamantíferas de Angola, ou a prisão, em 2015, de um grupos de académicos, estudantes e artistas "que frequentavam um clube de leitura para discutir protestos pacíficos e democracia".
"O seu governo caracterizou-se por uma crise económica sem precedentes, uma sociedade muito pobre e desigual, e impunidade face a graves violações dos direitos humanos, incluindo assassínios ilegais, detenções por motivos políticos e repressão da imprensa", reforçou.
A organização destacou também o que considera "a impunidade garantida" a elementos das forças de segurança implicados no uso excessivo da força, tortura e desaparecimentos forçados, dando como exemplo os "alegadamente responsáveis pelo massacre, em 2015, de membros de uma seita cristã", em Monte Sume, na província do Huambo.
No comunicado, a HRW assinalou também que o sucessor de José Eduardo dos Santos e atual presidente de Angola, João Lourenço, "ainda não introduziu reformas significativas no setor da segurança, encorajando as forças a continuarem as violações graves, incluindo ataques violentos a ativistas e a repressão de protestos pacíficos".
O ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos morreu a 08 de julho, aos 79 anos, numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento, tendo o governo angolano decretado sete dias de luto nacional.
Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como presidente de Angola, em 1979, e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo, pontuada por acusações de corrupção, nepotismo e violações dos direitos humanos.