"João Lourenço deverá usar esta época de luto nacional para lembrar à população o papel que José Eduardo dos Santos teve, e por associação, o Movimento Popular de Libertação de Angola [MPLA], no final da guerra civil em Angola e na reconstrução do país, numa tentativa de melhorar a imagem do MPLA nas vésperas das eleições", disse Marisa Lourenço.
Em declarações à Lusa a partir de Joanesburgo, esta analista da Control Risks disse também considerar que é "altamente improvável" um adiamento das eleições.
Questionada sobre o impacto da morte de José Eduardo dos Santos no andamento das reformas políticas e económicas que João Lourenço lançou desde que chegou ao poder, em 2017, a analista disse que o impacto será diminuto.
"Onde Lourenço teve sucesso com a sua agenda, principalmente na estabilização da economia, teve-o apesar da resistência dos aliados de dos Santos no partido e no governo", disse Marisa Lourenço, considerando, pelo contrário, que no campo das reformas políticas, o antigo Presidente teve menos influência.
"Onde [João Lourenço] não fez muitos esforços, como por exemplo nas reformas políticas, na relutância em realizar eleições e na repressão dos meios de comunicação social, isto aconteceu menos por causa de dos Santos e mais porque Lourenço percebeu que a sua popularidade e a do MPLA estavam em declínio há anos".
O governo angolano decretou sete dias de luto nacional e já declarou que pretende fazer um funeral de Estado em Luanda, decisão a que se opõe Tchizé dos Santos, afirmando que essa não era a vontade do pai, e que José Eduardo dos Santos não queria ser sepultado em Angola enquanto João Lourenço estiver no poder.
Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como Presidente de Angola, em 1979, e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo, marcada por acusações de corrupção e nepotismo.
Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa no país desde a independência, em relação a Portugal, em 1975.