Para Josiane dos Santos, uma das filhas da última mulher, Ana Paula dos Santos, que colaborou com o Governo na realização da cerimónia, José Eduardo dos Santos assumiu principalmente o papel de pai, "adotando uma nação inteira e logo o continente que o carrega".
"Em nome da minha família, agradeço a todos os presentes que se juntaram a nós para celebrar a vida do grande homem que perdemos", disse, deixando um "reconhecimento aos membros do executivo que tornaram possível este dia".
"É com o coração apertado e profunda tristeza, que hoje, como representante da família enlutada, estamos aqui todos presentes e unidos para prestarmos respeito ao nosso pai", afirmou Josiane dos Santos, considerando que as "palavras não suficientes para descrever" a figura do progenitor.
"A saudade e a dor vêm em ondas, parte de mim se foi e não voltará", afirmou Josiane dos Santos, que recordou o percurso de José Eduardo dos Santos.
"Não deixarei que usem o teu nome em vão, em benefício próprio" e "lutaremos as tuas batalhas com determinação", avisou Josiane dos Santos, num discurso com a voz embargada e marcado pela emoção.
"Papá, as tuas lutas não foram em vão", disse, recordando a "música e o desporto", em particular o futebol, como as suas paixões.
"Os teus filhos levarão adiante o teu legado", prometeu.
As cerimónias fúnebres do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos concluem-se hoje, data em que completaria 80 anos, com um funeral de Estado na presença de vários Presidentes, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, e representantes da diplomacia de diversos países.
O antigo chefe de Estado morreu em 8 de julho, com 79 anos, em Barcelona, Espanha, onde passou a maior parte do tempo nos últimos cinco anos, mas as exéquias só agora se vão realizar devido à disputa sobre a custódia do corpo entre duas fações da família de José Eduardo dos Santos - a viúva e os três filhos mais novos, apoiados pelo regime angolano, contra os cinco filhos mais velhos.
Nas cerimónias de hoje encontram-se Ana Paula dos Santos e os três filhos que teve em comum com o antigo chefe de Estado, bem como um outro filho, José Filomeno dos Santos "Zenu", que foi condenado pela justiça angolana a uma pena de prisão pelo seu envolvimento num caso de corrupção e aguarda, em liberdade, decisão sobre o recurso que interpôs.
O funeral fica marcado também pela ausência das mediáticas filhas mais velhas do ex-presidente, a empresária Isabel dos Santos que enfrenta diversos processos na justiça angolana e em outros países, e a ex-deputada do MPLA, Tchizé dos Santos, que declarou o seu apoio ao candidato da UNITA à presidência angolana, Adalberto da Costa Junior, contra o candidato do MPLA e sucessor do seu pai na presidência, João Lourenço.
Presentes no funeral estão o presidente da UNITA, que chegou pelas 09h30 ao local, bem como líderes de outros partidos da oposição, bispos católicos, membros do executivo angolano e outras individualidades.
Só perto do início das cerimónias, atrasadas duas horas, é que a organização conseguiu preencher o auditório dedicado à população em geral, mas as arquibancadas do Memorial Agostinho Neto permaneceram muito despidas de pessoas.
A praça da República, onde se encontra o monumento fúnebre do primeiro Presidente angolano, no Memorial António Agostinho Neto, foi novamente escolhida para as cerimónias fúnebres, depois de ter acolhido um velório público sem corpo logo após a morte de José Eduardo dos Santos, durante um luto nacional de sete dias.
Este domingo, haverá honras militares num programa que inclui música lírica, leitura de mensagens do Estado angolano e da família, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), da Fundação José Eduardo Santos e leitura do elogio fúnebre, bem como um culto ecuménico, acompanhado de grupos corais.