Neste processo eleitoral que ainda está em curso, "o papel de Portugal é ouvir, respeitar, não se meter naquilo que não é chamado, mas ser naturalmente sensível a estes valores: é um tema angolano, não é um tema internacional, não é um tema que seja resolvido por outras instâncias intermediárias que não sejam os angolanos", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
Dois dias depois de Adalberto Costa Júnior ter pedido uma comissão internacional para avaliar as atas eleitorais, já que os dados da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) não coincidem com os da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Marcelo Rebelo de Sousa disse que esta "é uma questão interna angolana", que deve ser "resolvida entre os angolanos e não por intermediários internacionais, mesmo sendo amigos", como é o caso de Portugal ou da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Nenhum de nós deve interferir naquilo que é de Angola", disse Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando: "os estrangeiros podem assistir e acompanhar", mas "é uma questão angolana e está em pleno processo eleitoral".
Hoje, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu no hotel o líder da UNITA, cumprindo um pedido feito por Adalberto Costa Júnior ainda antes da campanha eleitoral.
“Eu tinha prometido a mim mesmo que, vindo aqui a Angola, naturalmente falaria com ele, ainda por cima, sendo depois de exercido o direito de voto”, explicou.
Na reunião, “falei ouvindo, quer dizer, ouvi mais do que falei”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, que não quis explicar sobre o que falou com o líder da oposição que contesta os resultados da CNE e pede uma comissão internacional para comparar as atas das assembleias de voto na posse dos delegados com as que as autoridades possuem.
Os dados provisórios dão uma maioria absoluta ao Movimento Popular de Libertação de Angola, com 124 deputados em 230 mandatos que compõem a Assembleia Nacional.
Sobre Adalberto Costa Júnior, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a presença do líder da UNITA nas cerimónias fúnebres oficiais do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, destacando o espírito de ter o “interesse nacional acima de tudo, dentro de um espírito de pacificação”.
Na conferência de imprensa na residência do embaixador português em Luanda, o chefe de Estado elogiou a “grande maturidade dos angolanos cidadãos e dos angolanos políticos que é a de tratar o que é de angolano entre angolanos”, lidando com o processo eleitoral com “todos os meios que a constituição e a lei permitem”, sempre “num clima de paz”.
Para os angolanos, “é irreversível a paz” conquistada após a guerra civil que opôs o MPLA e a UNITA, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve reunido no sábado com João Lourenço, Presidente angolano e líder do partido governamental, mas “não falando da problemática interna” do processo eleitoral.
“Um Presidente da República que está em funções tem que ser o guardião do funcionamento das instituições e, mesmo que seja candidato, não vai falar com um chefe de Estado estrangeiro de uma situação eleitoral interna”, justificou Marcelo Rebelo de Sousa, que teve também encontros com outros presidentes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, presentes em Luanda.
Sobre as celebrações fúnebres oficiais, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que foi uma “cerimónia muito intensa e muito completa”, com uma “componente cívica e religiosa”, de culto metodista e católico, com um “número apreciável de chefes de Estado”.