"Uma grande árvore caiu, e como acontece muitas vezes, os falhanços serão desvalorizados em favor dos feitos históricos; José Eduardo dos Santos merece o seu lugar entre os maiores do continente, mas os seus grandes momentos vão parecer uma memória distante para os muitos angolanos que nunca beneficiarem dos dividendos socioeconómicos da grande produção de petróleo do país", escrevem os analistas da Oxford Economics.
Num comentário à morte do antigo Presidente de Angola, na sexta-feira, em Barcelona, esta consultora britânica nota também que o acontecimento "surge numa altura extraordinária", em vésperas de eleições e com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) a "enfrentar uma forte oposição da coligação liderada pela União para a Independência Total de Angola (UNITA)".
No que diz respeito à questão do funeral e da divisão na família do antigo Presidente, a Oxford Economics Africa considera que um funeral de Estado para o "baluarte do MPLA" vai permitir ao Governo enfatizar a história do partido, mas é "precisamente por isso" que a família não quer repatriar o corpo.
"Um funeral de Estado para o baluarte do MPLA vai dar ao governo a oportunidade de mostrar pompa e circunstância, e lembrar aos eleitores a história e o papel do partido na luta de liberdade, mas é precisamente por essa razão que a sua família está a resistir aos esforços de repatriamento do corpo", concluem os analistas.
O Governo angolano decretou sete dias de luto nacional e declarou que pretende fazer um funeral de Estado em Luanda, decisão a que se opõe uma das filhas, Tchizé dos Santos, afirmando que essa não era a vontade do pai, e que José Eduardo dos Santos não queria ser sepultado em Angola enquanto João Lourenço estiver no poder.
Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como Presidente de Angola, em 1979, e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo, pontuada por acusações de corrupção e nepotismo.
Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo MPLA, partido no governo desde que o país se tornou independente de Portugal em 1975.