Em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, o também jornalista considerou que a referência do chefe de Estado angolano à guerra na Ucrânia no seu discurso de tomada de posse, em 15 de setembro, foi uma nota de improviso “por pressão americana” ou “por outros interesses que se conjugam” e não “um fio condutor da política externa angolana”.
“Penso que é mais um discurso para afastar alguns incómodos diplomáticos, mas que em termos práticos é difícil prever qual será efetivamente a linha orientadora, porque Angola não tem uma política externa clara em relação a estes grandes temas”, referiu.
“Tendo em conta a necessidade de se evitar o escalar do conflito, consideramos importante que as autoridades russas tomem a iniciativa de pôr fim ao conflito [na Ucrânia], criando assim um melhor ambiente para se negociar uma nova arquitetura de paz para a Europa e abrir caminho à tão almejada e necessáia reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse João Lourenço no seu discurso de posse, em Luanda.
O chefe de Estado disse que “a República de Angola tem sempre defendido a importância do recurso ao diálogo e a resolução pacifica dos conflitos, primando pelo respeito inequívoco do direito internacional”.
Rafael Marques referiu que não é muito claro se esta referência no discurso de João Lourenço representa de facto “uma viragem” na política de Angola em relação à Rússia, um aliado de longa data, mas alertou que há “consequências práticas”.
“O exército angolano usa equipamento russo, de origem russa e uma das consequências é que Angola tem de decidir se ao desligar-se da Rússia vai continuar a manter o seu exército sob a influência da doutrina militar russa, incluindo o uso de equipamentos militares”, disse.
Angola foi um dos 35 países do mundo que não condenaram a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, numa votação na Assembleia-Geral das Nações Unidas em março.