Isaías Samakuva, que falava hoje durante um encontro promovido pelo Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), em Luanda, disse que está a escrever um livro de memórias, que será suportado por um acervo do tempo de guerra que tem guardado no exterior do país.
“Achei que precisava de envolver mais dados (para o livro) e é isso que tem me ocupado nestes últimos sete meses, mas muitos dos fatos de que eu quero falar fazem parte de questões controversas que foram, de uma forma geral, tratadas pelos nossos adversários ou pelos nossos detratores”, disse.
Apontou a morte de alguns dirigentes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição), “histórias contadas pelos nossos detratores e desertores do partido”, como factos que garante narrar “sem tabus” para contrapor outras versões.
A UNITA “ainda não apresentou nenhuma versão real dela (história da morte de dirigentes) e acho que não é tabu nenhum, se era tabu hoje já não é tabu para mim, pelo menos”, referiu Samakuva, que liderou a UNITA entre 2003 e 2019.
“Então, é preciso que os angolanos saibam o que se passou na realidade, quais são as causas e como é que foi”, assegurou em meio de aplausos da plateia presente no encontro.
Samakuva, que presidiu a UNITA após a morte de Jonas Savimbi, líder fundador do partido em 2002, foi o orador da primeira edição do espaço “Reencontro com a História”, realizado esta sexta-feira pelo MEA.
O político e diplomata, formado em ciências sociais e relações internacionais, recusou mesmo, na ocasião, o título de doutor, como ao longo dos anos veio sendo chamado, explicando que não defendeu a tese de doutoramento em relações internacionais.
“Eu não sou doutor, não defendi a minha tese de doutoramento, porque sempre fui chamado para responder aos desafios da pátria, então essa conclusão da formação foi sendo adiada”, disse.
Assegurou que aos 76 anos está na política ativa, nunca sonhou ser presidente da UNITA, agora liderada pelo seu sucessor Adalberto Costa Júnior, referindo que chegou à presidência do partido por convite de muita gente.
Nesta sua primeira aparição pública como orador de um evento, após 16 anos no comando do partido do galo negro, Samakuva assegurou igualmente que cumpriu o seu dever.
“E pessoalmente estou satisfeito com o que fiz”, referindo, no entanto, que foi presidente da UNITA “por um imperativo”.
“Aquilo não era festa, mas foi boa experiência, aprendi muito”, atirou.
Falando por uma plateia composta maioritariamente por estudantes, Samakuva considerou ainda que a educação em Angola “colapsou”, sobretudo pela forma “como está estruturada, a qualidade dos processos e a forma como se ensina”
“É inaceitável que alguém que termina um curso superior não saiba escrever uma frase sem erros, temos esses casos”, lamentou.
Aos estudantes pediu formação contínua, com ferramentas técnico-científicas e tecnológicas, e às autoridades aposta na qualificação e formação técnico profissional aos jovens para o mercado de trabalho.