Segundo o empresário, que discursava hoje na abertura do 1.º Congresso da Nação: “Pensar Angola, por um Projeto Comum de Consenso”, a “maioria dos angolanos continua a viver hoje em condições precárias e é urgente fazer-se mais e melhor”.
Para Francisco Viana, um dos organizadores do congresso, hoje a “maior parte do povo angolano está muito mais informada, não só sobre os roubos e pelo saque efetuados aos bens públicos, mas já tomou conhecimento que existem países no mundo onde se vive muito melhor”.
“É verdade, a nossa sociedade civil amadureceu e não só quer ouvir as propostas dos políticos, mas também quer apresentar as suas”, disse.
“Com este amadurecimento acabamos por construir o primeiro consenso e todos estamos de acordo no pensamento de que é possível e urgente fazer-se mais e melhor pelas nossas famílias, mais e melhor para Angola”, referiu.
O empresário considerou ainda que “o povo angolano é um grande povo, merece viver feliz, mas esta felicidade tarda a chegar”.
“Quase cinquenta anos depois da independência, a maioria de nós continua a viver em condições precárias: ensino precário, habitação precária, alimentação precária, transporte precário, saúde precária, direitos humanos precários e informação precária”, salientou.
Em quase cinquenta anos de independência, frisou, as províncias angolanas “continuam sem autonomia, nem umas eleições autárquicas. Algumas dessas províncias contribuem para o Orçamento Geral do Estado (OGE) com milhões de dólares, mas a população vive mal”.
O empresário particularizou as províncias de Cabinda, rica em produção petrolífera, e as províncias da Lunda Norte e Sul, ricas em recursos diamantíferos, considerando que mesmo com o petróleo e os diamante aí explorados as populações “vivem em condições precárias”.
“E nem sequer têm liberdade de expressão”, considerou, recordando os incidentes de 30 de janeiro de 2021, em Cafunfo, Lunda Norte, tendo observado que “ninguém pode ignorar os conflitos que ainda existem no território chamado Angola”.
“Enquanto existir um município no nosso país onde morrem angolanos em ações de guerra, não poderemos, honestamente, afirmar que existe paz verdadeira em Angola. Todos os angolanos merecem e querem paz”, exortou.
Francisco Viana, o antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco, académicos e o músico Eduardo Paim são os promotores deste congresso, que se iniciou hoje, em Viana, um dos nove municípios de Luanda, e decorre até sábado.
Contribuir para um projeto comum em prol de uma Angola “mais inclusiva, solidária e democrática” para um melhor esclarecimento pré-eleitoral sobre as propostas das forças políticas concorrentes às eleições gerais e criar um ambiente de paz e concórdia são os objetivos da iniciativa.
“O objetivo deste congresso, tendo em conta as dificuldades acima enumeradas, não é de nos lamentarmos sobre o passado ou do sofrimento atual, mas sim procurarmos juntos soluções e propostas que possam ser aproveitadas e implementadas por aqueles que amanhã deverão governar o país”, frisou Francisco Viana.
No entanto, acrescentou que não pretendem que este congresso da nação “se transforme num tribunal que venha a culpabilizar seja quem for ou que se transforme numa arma de arremesso contra esta ou aquela força política”.
O também presidente da Confederação Empresarial de Angola e filho de um histórico militante do MPLA, partido no poder desde 1975, recordou os “erros cometidos, atrocidades e excessos” do passado, considerando que de “nada vale chorar pelo leite derramado”.
“Interessa antes concentrar todos os nossos esforços sobre aquilo que nos une, pois aquilo que pretendemos fazer juntos é muito mais importante do que o pouco que nos divide”, disse.
O congresso junta os líderes de todos os partidos políticos na oposição, com destaque para os presidentes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior, da Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), Manuel Fernandes, do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, da mesma força política, e outros, tendo a organização lamentado a ausência de dirigentes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Académicos, líderes religiosos, atores da sociedade civil e líderes religiosos também constam entre os convidados e oradores dos debates que vão abordar o atual estado da nação e o futuro e os modelos de Estado, a economia, a macroeconomia e o ambiente de negócios em Angola.