“Há coisas que já se vão vislumbrar, obviamente que para o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder] não é nada positivo esta imagem de que havia um desencontro claro entre o Presidente José Eduardo dos Santos e os seus apoiantes e os apoiantes do Presidente João Lourenço”, afirmou Sérgio Kalundungo à Lusa.
Para o líder do OPSA, o atual cenário de “disputa” do corpo do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, que morreu há uma semana em Barcelona, Espanha, “dá a sensação a nível exterior de que o partido [MPLA] não estará unido”.
“Não é só unido em torno das figuras. É que as questões estruturantes que separavam o Presidente João Lourenço do Presidente José Eduardo dos Santos claramente que podem, não só do ponto de vista da imagem, obviamente que terá algum impacto negativo, neste sentido, ao partido”, disse.
“Como o eleitorado, como as pessoas vão reagir a isso, vai depender muito da forma como esta clara e notória divergência de posicionamento é apresentada à sociedade”, frisou.
Angola observa hoje o último dos sete dias de luto nacional em homenagem ao ex-presidente José Eduardo dos Santos, que morreu, há uma semana, numa clínica em Espanha, após semanas de internamento em coma induzido.
Persiste a dúvida sobre a trasladação do corpo de Eduardo dos Santos, que governou Angola durante 38 anos, uma vez que uma das filhas interpôs vários processos junto das autoridades espanholas responsabilizando as autoridades angolanas pela morte do pai.
Uma delegação governamental angolana está em Espanha para tentar “desbloquear o processo”, tendo sido já constituído um advogado espanhol para o efeito, como disse hoje o ministro da Administração do Território angolano, Marcy Lopes.
Atividades político-partidárias, como comícios no âmbito da pré-campanha eleitoral, foram suspensas, em Luanda, em cumprimento do luto nacional em memória de José Eduardo dos Santos.
Sobre as implicações do luto nacional nas atividades partidárias, sobretudo do MPLA e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido na oposição, Kalundungo considerou que reinou bom senso e a suspensão das mesmas “tem um impacto curto”.
“Agora, sobre o impacto dos resultados eleitorais, acho que a morte de um ex-presidente da República não acredito, que por si só, que tenha um impacto significativo sobre os resultados numa campanha eleitoral”, apontou.
“O que sim pode ter impacto é a forma como os diferentes atores vão gerindo este processo e, no caso particular, o Presidente José Eduardo a polémica que surgiu, ou seja, a forma como diferentes atores vão reagir a isso tem muito mais impacto do facto de ele ter morrido nesta altura”, argumentou.
As quintas eleições gerais da história política de Angola estão convocadas para 24 de agosto e a campanha eleitoral das oito formações políticas, aprovadas pelo Tribunal Constitucional, arranca um mês antes.
Sérgio Kalundungo entende, por outro lado, que João Lourenço, também presidente do MPLA, poderá reafirmar a ideia, na campanha eleitoral, “de que se calhar parte do problema [em torno da morte de Eduardo dos Santos] é porque ele decidiu fazer um combate cerrado à bajulação, à corrupção e o nepotismo”.
“Obviamente que, para muitos cidadãos, dizer que o Presidente da República veio a público e disse que iria fazer isto [combater a corrupção], mas terá feito? Até que ponto, até que nível? Ou seja, os seus detratores irão continuar a insistir na tecla de que a ação foi meramente seletiva e isto sim poderá ter, eventualmente, um impacto negativo”, concluiu o coordenador do OPSA.
Pelo menos 14,3 milhões de eleitores, dos quais 22 mil no exterior, estão aptos para exercer o seu direito de voto nas eleições angolanas, que elege o cabeça de lista da candidatura mais votada como Presidente da República.